O cansaço apodera-se do meu corpo, o ritmo da escrita aos poucos engasga-se nas minhas mãos trémulas, e eu, definitivamente não sou um gajo de sorte. Dizem que a sorte procura-se, mas comigo ela nada quer.
A palavra solidariedade, apenas uma palavra como tantas outras no dicionário, apenas uma palavra, e se eu disser tenho fome, a minha voz perde-se na noite e ninguém a ouve, ou se a ouvem, fingem que não ouvem, mas se um outro prenuncia a mesma frase tenho fome, uma multidão ocorre em seu auxilio.
É tudo uma questão de sorte, e às vezes até para se ser miserável é preciso ter sorte, e eu, definitivamente não sou um gajo de sorte.
Mesmo que eu grite com um megafone, tenho fome, ninguém, ninguém me ouvirá.
Há miseráveis com sorte, mas eu, eu sou um miserável definitivamente sem sorte.
Sou definitivamente um gajo sem sorte, e a solidariedade, essa, apenas sei que existe quando abro o maldito dicionário…
Luís Fontinha
Alijó
10 de Junho de 2011