Gosto da manhã
Quando se entranha no meu esqueleto
E no fingimento da tarde
Adormece dentro da caixa de papelão
O uivar dos pássaros
Que poisam nos meus braços
Quando dos ramos de mim
Cresce no silêncio o poema
E o poema agarra-se ao cinzento relógio de pulso
Escorre pacientemente como seiva derramada
O poema de mim
O poema de nada
No poema as palavras que transpiram do meu sofrimento
A dor emerge como nuvens no céu
Em pedacinhos de água
As vogais despedem-se na madrugada…
As vogais comem a manhã
Os rios
E as montanhas
E o poema uma sombra impressa numa lápide
O poema de nada
Quando da manhã
Eu, eu grito aos seios da montanha…
O poema é meu, o poema não é nada, o poema sou eu.