Mergulho
Dilato-me no vácuo como um sistema de equações
Matrizes alicerçadas aos meus braços
E nas minhas pernas as integrais triplas
O peso mingua e o meu corpo em pó
Amarrotado a uma folha de papel
Procuro o meu centro de massa
E um ponto esconde-se na manhã
O sol em mim que se derrete
E alimenta as veias do meu cansaço
Às árvores os pássaros
Ao poema as palavras
Que jorram do meu sangue em cadáver
E se cruzam na esquina da rua
Putas em putas os cabelos ao vento
E nas escadas do sótão
As migalhas da miséria
Pedacinhos de piolhos
Agarrados ao cobertor
E roem-me os tornozelos de números
Complexos infinitos e reais
Vem o vento e leva o cheiro de mim
A carne podre numa cama ancorada à janela
No sótão da casa
Casa? Quatro paredes de cartão
No tecto as estrelas do céu
As montras das lojas falidas
E do soalho as pedrinhas do passeio
Mergulho
Em ti oração da manhã
E dizem-me que Deus sentado no poleiro
Indiferente arrogante
Um político de merda
Como todos as merdas
Indiferentes
Arrogantes.