A saliva da tarde
Misturada com os cigarros da solidão
E na minha boca a saudade
O infinito rio emaranhado em fios de seda purpurina
Nos socalcos da minha mão
Em sombras de silício sina,
Mergulho a cabeça no rio
Ou penduro-me silenciosamente
Nos ramos de um plátano com cio
E me abraço ao tronco caliente,
E é-me indiferente,
Os meus olhos com overdose de paisagem
O xisto no chão que me castiga
Os ossos circunflexos em viagem
E dentro de mim os murganhos em revolução
O mesmo lamento a mesma cantiga
A dor de quem não tem pão,
E é-me indiferente,
Os lábios sem cor
Os dentes encavalitados no céu-da-boca
O jardim em flor
E tudo isso coisa pouca,
Ou coisa nenhuma…
O douro é um amontoado de silabas deitadas na encosta
Sem barcos nem espuma
O douro: ou se gosta ou não se gosta…