Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jul 11

Junto ao abismo,

Forçosamente percebe que se der um passo

Cai majestosamente rabina abaixo

O vento suspende-se e o corpo dele ingrime

No dia de amanhã,

 

Vou não vou

Ele debate-se com o dilema do desconhecido

E pergunta-se e grita à garganta da encosta

O que faço?

 

A sombra decide lançar-se

Cerra os olhos

Coloca as mãos entrelaçadas no peito…

E o que for é,

 

Em queda livre,

Nove virgula oito metros por segundo quadrado

E enquanto a gravidade puxa a sombra

O corpo fica suspenso na tarde

E arrepende-se,

 

Solicita à grua das nuvens

Que levante a sombra suicida

Mas a sombra em fintas e curvas

Vê-se livre da grua,

 

E a queda é inevitável

Os ossos da sombra estatelados nos pedregulhos

Do silêncio junto ao rio

O corpo em lágrimas,

 

No chão,

Duzentos e seis ossos semeados no rio

Trinta e dois dentes fincados nas algas

Como se fossem o pôr-do-sol

Quando o sol se afunda no horizonte,

 

A sombra morre

Causa da morte impressa na noite

Solidão e desespero

Doença comum,

 

O corpo órfão da sombra

Uma rotação de cento e oitenta graus

E as pernas em passos de caracol

Afastam-se do abismo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:10

Julho 2011
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