Junto ao abismo,
Forçosamente percebe que se der um passo
Cai majestosamente rabina abaixo
O vento suspende-se e o corpo dele ingrime
No dia de amanhã,
Vou não vou
Ele debate-se com o dilema do desconhecido
E pergunta-se e grita à garganta da encosta
O que faço?
A sombra decide lançar-se
Cerra os olhos
Coloca as mãos entrelaçadas no peito…
E o que for é,
Em queda livre,
Nove virgula oito metros por segundo quadrado
E enquanto a gravidade puxa a sombra
O corpo fica suspenso na tarde
E arrepende-se,
Solicita à grua das nuvens
Que levante a sombra suicida
Mas a sombra em fintas e curvas
Vê-se livre da grua,
E a queda é inevitável
Os ossos da sombra estatelados nos pedregulhos
Do silêncio junto ao rio
O corpo em lágrimas,
No chão,
Duzentos e seis ossos semeados no rio
Trinta e dois dentes fincados nas algas
Como se fossem o pôr-do-sol
Quando o sol se afunda no horizonte,
A sombra morre
Causa da morte impressa na noite
Solidão e desespero
Doença comum,
O corpo órfão da sombra
Uma rotação de cento e oitenta graus
E as pernas em passos de caracol
Afastam-se do abismo.