Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jul 11

Todos os dias,

Levantar

Comer

Lutar

Voltar a comer

Deitar

E adormecer,

Todos os dias,

O mesmo relógio de pulso

As mesmas horas esquecidas na mão

O mesmo corpo

A mesma solidão,

Todos os dias,

Os livros

As palavras

As letras

As minhas conversas parvas,

Todos os dias,

O sol

A noite a ser fodida pela lua

A insónia

A amargura nua,

Todos os dias,

Levantar

Comer

Lutar

Voltar a comer

Deitar

E adormecer,

Todos os dias,

Esperar a morte na paragem do elétrico

Cansar-me das sombras do néon da cidade

Meter a cabeça num alguidar de água salgada

Fingir que é o mar da saudade,

Todos os dias,

A ganância do dinheiro

Na economia enlouquecida

Sobe, sobe, sobe dinheiro cu acima

Sobe… e não tenhas medo da subida,

Todos os dias,

O espelho dormente

A boca cansada dos cigarros imaginários

O fumo que me entra nos ouvidos

E me sai pelos ovários,

Todos os dias,

O poeta que me mente

E afirma que o mar entra pela janela

Vai-te foder “AL Berto” porque pela janela só entra gente,

Todos os dias,

E moscas

E abelhas esfomeadas

Todos os dias

Palavras envenenadas,

Todos os dias,

O meu corpo emagrece

Diminui de tamanho

Inerte nos resíduos da rua

Todos os dias toma banho,

Todos os dias,

Asseado

Mal-educado

Fornicado

Esganado

Cansado

Triturado

Todos os dias,

Todos me fodem

Tos me querem comer

Todos e até os pássaros

Escrevem que vou morrer,

Todos os dias,

Luto para viver…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:22

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