Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Jul 11

Este rio vai matar-me

E o meu corpo engolido pelos socalcos

Misturado no xisto em migalhas

Como o pão sobre a mesa

 

Este rio vai matar-me

E sinto o cheiro da podridão do cansaço

As curvas dos meus braços

Presas nos canaviais

 

Pardais sobre esta cabeça inclinada na tarde

Algas saltitando junto ao cais

As pernas alicerçadas no vento

Este rio é um verdadeiro tormento

 

A agonia desesperada das mãos calejadas

O peso silencioso da enxada

E os ombros que se escondem na sombra

O rio olha-me e quer matar-me

 

Alimentar-se da minha pele pegajosa

Das gotinhas amargas de pétala quando acorda

A manhã sonolenta e cansada

E as minhas mãos começam a voar

 

Perdem-se no rio que me quer matar

Voam desesperadamente ao infinito

E o comboio sem me olhar

Nos seus vagarosos passos de lesma

 

Este rio vai matar-me

E os socalcos engolir o meu corpo

As cinzas semeadas na terra gretada da tarde

Como o adubo no pé da videira…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:11

Julho 2011
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