Não espero nada da vida.
Pausa,
Um momento de silêncio
A mão que se encosta ao meu rosto
E uma árvore que me abraça
Nas cinzas dos teus olhos,
Nem a vida espera nada de mim.
Recomeço,
Pregado aos lençóis
Esquecido no mar como se fosse um barco
Eu feito de aço
Com a ferrugem dos meses na minha pele,
Fim.
Os anos a engolirem-me e eu dentro do estômago dos dias,
As mãos e as pernas deixam de existir
As coxas da maré em fios de sémen
E o que resta de mim, pouca coisa,
O alimento das gaivotas com forme,
A vida é uma merda.
Deixei de existir,
O oxigénio em migalhas de sofrimento
E nos meus pulmões cigarros sepultados
O fumo à minha volta como a neblina
Quando os barcos se perdem no rio,
O farol na busca do que resta do meu corpo.
Espuma sobre a água,
Os seios do pôr-do-sol no fim da tarde
O púbis das nuvens em gemidos orgânicos
Gotinhas de desejo desprendem-se dos teus lábios
E sinto que a tua mão me procura na sombra da vida.