As silabas atónitas do corpo mastigado
Na saliva da noite
E se entranham no aço das estrelas
As frestas do cansaço encalhado
A menina vacila sobre a corda da vida
E a vida não lhe sorri
As silabas caiem do papel de cetim
Mudam de linha
Paragrafo
Travessão
Ponto final
Morre na penumbra madrugada,
A rua paralela ao rio
Embaciada na tarde em cio
O semáforo que me proíbe a passagem
E eu fecho-me no sono da outra margem,
Cacilheiros com boina de cavalaria
Arrotos de calçada
Putas embainhadas na leitaria
À procura da madrugada,
Afogo-me numa árvore
Enforco-me no rio,
A tarde antes de chegar a noite
Os pássaros nas minhas costas suspensos
E me cagam e me mijam e se riem de mim
Enxoto-os com os meus lábios em labaredas
E dos cigarros crescem-me lâminas de barbear
Cortam-me o cabelo
Vestem-me fato e gravata
E nos alicerces sapatos de verniz,
As silabas atónitas do corpo mastigado
Na saliva da noite
E se entranham no aço das estrelas
As frestas do cansaço encalhado,
E no meu peito cresce um buraco negro.