Solicitude magnética de um olhar
Quando o sol adormece na montanha
O rio abraçado ao mar
O rio que corre e ninguém o apanha,
O rio é o Douro
Engasgado nos socalcos da miséria,
Nas curvas dos carris cansa-se o comboio ensonado
Quase que dorme quase que engole a paisagem
Quase deitado
No leito da viagem,
O rio é o Douro
Engasgado nos socalcos da miséria,
O rio encurvado, rasgado, o rio de janela aberta
Nas paredes humedecidas do xisto do dia
O rio que me afoga na morte certa
Quando o silêncio junto à noite alumia,
O rio é o Douro
Engasgado nos socalcos da miséria,
O rio é o sangue que caminha na artéria.