Não deixes que as tuas raízes
Se desabracem da terra húmida da vida
O vento que bofeteia o teu rosto é passageiro
E amanhã o sol nos teus olhos
A saliva da tua boca na amargura da noite
Não dormes
Não comes
Mas enquanto as tuas raízes se abraçarem à terra
O teu sorriso pinta-se no céu
As nuvens descem à montanha
E da janela da tua mão
O cortinado dos teus lábios que me olham
E o vento os passeia
E do vento nascerá a força para não tombares
Nos alicerces do cansaço
Quando eu te abraçar
Não deixes que as tuas raízes
Se desabracem da terra húmida da vida
E eu acredito que quando adormecer a noite
Tu estarás sentada à beira dos socalcos
E olhas o rio
E espetas pregos de saudade nas oliveiras
Quando adormecer a noite
O amanhecer deitar-se-á na tua mão de silêncio…