Entre as esquinas do dia
E as sombras da noite
O meu corpo mergulha no poema
E extingue-se na cidade adormecida
Folheias-me as pétalas encardidas
Quando nas mãos brotam espinhos
Cintilam uvas das videiras amassadas na neblina
E o rio entra-me coração adentro
Como um petroleiro que desliza na geada
Como um pai que abraça o filho
E os socalcos enrolam-se-me nas pernas
E não me deixam caminhar
Agarro-me ao pôr-do-sol
Que esconde o rio
E nos meus lábios constroem-se barcos rabelos
E finjo-me de morto…