O desespero do esqueleto
Suspenso nas margaridas e nos malmequeres e nas tílias da vida,
A noite bate à porta secreta dos óculos poisados na mesa-de-cabeceira, o esqueleto pendurado no guarda-fato disponível para se transformar em pedacinhos de poeira, e o néon de esperma derretido sobre as nuvens, cânforas manhãs de espuma sobre a toalha de plástico que adormece na cozinha, abre-se a porta, e um amontoado de palavras que fugiram do texto, pousam-se nas lentes, e pensam, entramos, não entramos, decidem entrar e esconderem-se nos meus olhos, e os meus olhos cegam-se na luz infinita dos eletrões encaixotados nas finíssimas vogais das palavras,
Fecho a porta secreta dos óculos, chamo pelo macio pano de seda e humedecido nas lágrimas das silabas acaricio-lhes o vidro das janelas, poiso-os novamente sobre a mesa-de-cabeceira e adormecem, é meia-noite e todos em casa dormem; O desespero do esqueleto suspenso nas margaridas e nos malmequeres e nas tílias da vida, e a vida extingue-se no fumo dos cigarros.