Sabes, meu amor, não existe manhã,
As flores são feias,
E a noite não tem encantos,
E não adianta escrever que te amo…
Se eu nem consigo alcançar o Pinhão,
Quanto mais, meu amor, chegar à lua onde habitas,
Três longos dias de viagem,
O pesado capacete na cabeça,
O fato que me faz comichão e alergias…
E depois os enjoos,
E a falta de cigarros,
Sabes, meu amor, também não existem pássaros,
O Tejo é mentira,
E Belém,
Ai Belém, meu amor, Belém morreu dentro de mim,
E olha-me de uma lápide disfarçada de cacilheiro,
Mas retomando à viagem até ti, meu amor,
A lua, meu amor, a lua onde habitas é linda,
E à noite peço-lhe que desça,
Devagarinho, e me entre pela janela,
Que te dispas e te deites sobre mim,
Sim meu amor, esquecemos o fato e o capacete,
E os enjoos, sim e os enjoos,
E te abraces ao meu corpo de terra húmida de Luanda,
Sabes, meu amor, sei que estou vivo,
Sei que estou vivo quando oiço a tua voz amarrotada na noite,
- Francisco, OLÁ!,
E olho o céu e não encontro a lua,
É tudo mentira, meu amor,
O céu é mentira,
O sol, meu mar, é mentira,
E sabes, meu amor, durante a noite a tua mão visita-me,
E nos teus lábios sinto a espuma do mar,
O orvalho misturado no cacimbo,
E meu amor, é tudo tão estranho,
Sabes, meu amor,
Muitas vezes não sei se estou em Portugal ou em Angola,
E depois sei onde estou,
Abro a mão nos silêncios do teu cabelo
E meu amor, nenhum papagaio de papel para eu brincar…