Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Ago 11

Sabes, meu amor, não existe manhã,

As flores são feias,

E a noite não tem encantos,

E não adianta escrever que te amo…

Se eu nem consigo alcançar o Pinhão,

Quanto mais, meu amor, chegar à lua onde habitas,

Três longos dias de viagem,

O pesado capacete na cabeça,

O fato que me faz comichão e alergias…

E depois os enjoos,

E a falta de cigarros,

Sabes, meu amor, também não existem pássaros,

 

O Tejo é mentira,

E Belém,

Ai Belém, meu amor, Belém morreu dentro de mim,

E olha-me de uma lápide disfarçada de cacilheiro,

 

Mas retomando à viagem até ti, meu amor,

A lua, meu amor, a lua onde habitas é linda,

E à noite peço-lhe que desça,

Devagarinho, e me entre pela janela,

Que te dispas e te deites sobre mim,

Sim meu amor, esquecemos o fato e o capacete,

E os enjoos, sim e os enjoos,

E te abraces ao meu corpo de terra húmida de Luanda,

 

Sabes, meu amor, sei que estou vivo,

Sei que estou vivo quando oiço a tua voz amarrotada na noite,

- Francisco, OLÁ!,

E olho o céu e não encontro a lua,

 

É tudo mentira, meu amor,

O céu é mentira,

O sol, meu mar, é mentira,

E sabes, meu amor, durante a noite a tua mão visita-me,

 

E nos teus lábios sinto a espuma do mar,

O orvalho misturado no cacimbo,

E meu amor, é tudo tão estranho,

Sabes, meu amor,

Muitas vezes não sei se estou em Portugal ou em Angola,

E depois sei onde estou,

Abro a mão nos silêncios do teu cabelo

E meu amor, nenhum papagaio de papel para eu brincar…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:57

Agosto 2011
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