Arde a manhã quando no Douro se evapora o olhar dos socalcos, ele em busca dos cigarros na algibeira, e uma abelha poisa no portátil onde escrevo, lança-o à boca e no desejo da chegada do pôr-do-sol o fumo eleva-se ao cimo da montanha, um barco passeia-se e desparece na curva do rio, e o cigarro camuflado na tarde diminui, a cinza mistura-se no xisto, e no soalho as frinchas da garganta em secura, á agua entranha-se nos carris paralelos e curvilíneos e o Pinhão desaparece pela janela do ensonado comboio,
A noite hoje não vem,
Beijos ardentes
No teu corpo quente
Dos teus olhos diamantes
E na tua boca que sente
Os meus lábios seminus da madrugada
Beijos ardentes
No teu corpo quente
Nas coxas onde sentes
O acordar da alvorada
E do rio sem gente
As algas enroladas à tua cintura
As minhas mãos quentes
Com ternura
Que esperam os teus beijos ardentes…
A noite hoje não vem,
E a abelha olha-me como se eu fosse uma flor, e se não fosse alérgico às abelhas Juro por tudo, deixava-a comer-me!, desculpe menino, mas você é louco, Algum dia se viu ser comido por uma abelha?, e eu pensava enquanto assistia à conversa entre o menino Francisquinho e o portátil, e sinto no meu corpo as letras passearem-se ao som de the doors, e eu pensava O que este louco merecia é que lhe ferrasse a cabeça, e de certeza que lhe passava a maluquice, ai se não passava,
Arde a manhã quando no Douro se evapora o olhar dos socalcos, ele em busca dos cigarros na algibeira, e a abelha esconde-se na prateleira dos livros, encolhe as asas, cerra os olhinhos e grita Beijos ardentes,
E o louco termina o texto,
Beijos ardentes o tanas, beijos ardentes, coxas de diamantes, seios cintilantes, lábios vigilantes, pernas dormentes, e nos olhos a espuma do mar que sorri…