Sara, meu amor (nome fictício),
Regresso agora do mar de Luanda, e é tão lindo, meu amor, no céu prendem-se estrelas e na espuma entrou-me a madrugada e na areia uma trapezista sumia-se no cacimbo, abro a janela, um petroleiro abraça-se na mesa-de-cabeceira, e dos teus lábios, meu amor, dos teus lábios vejo o pôr-do-sol,
Tenho medo ao mar, minha querida, abraço-me ao pescoço da minha mãe e choro, e grito, e preciso dos teus braços que guardam o meu corpo de barco, enferrujado, velho, cansado,
Sara, meu amor (nome fictício),
Regresso agora do mar, são 01:45 horas e nas nuvens vejo os teus olhos alicerçados nas planícies do Alentejo, não me perguntes porquê o Alentejo, nunca lá estive, apenas atravessei-o em caminhadas para outros destinos, e nos teus lábios um cacilheiro em roncos acelerados, a ponte foge no horizonte, e do outro lado do rio, do outro lado do rio, meu amor, do outro lado do rio a jangada que nos espera,
Sara, Meu amor (nome fictício)
Não percebo porque te amo, mas amo-te como se fosses um texto literário, leio-te, sublinho nas tuas costas as silabas engasgadas da manhã, dispo-te e pego nas palavras dos teus cabelos e escrevo o poema que corre na tua boca, oiço o sino que da igreja me cansa nesta noite que acabo de regressar do mar de Luanda, deixo os cigarros na cidade e escondo-me entre os machimbombos doentes, fatigados de caminhar nas ruas e no céu os pássaros de sempre nas tuas mão de hoje,
Regresso agora do mar de Luanda, e é tão lindo, meu amor, no céu prendem-se estrelas e da espuma entrou-me a madrugada e na areia uma trapezista sumia-se no cacimbo, e percebo que a vida sem ti não faz sentido,
Sara, Meu amor (nome fictício)
Amanhã deito a minha cabeça nas tuas coxas, mas hoje, hoje, meu amor, hoje deixa-me recordar o regresso da praia de Luanda…