Deixaste a tua voz
No guarda-fatos lá de casa,
E no meio dos objectos perdidos
Quando a noite estremece dentro de mim,
Entra de mansinho
E agarradinha ao meu corpo
Adormece juntinho ao meu pescoço
Na garganta rouca pelos cigarros…
Deixaste a tua voz
Para que eu durante a noite adormeça
Da saudade que arde na fogueira
Que no corredor deambula,
E se agarra às sombras suspensas nos meus cabelos.
Deixaste a tua voz para eu brincar
E diluída na minha
Crianças sorriem na calçada,
Fazem desenhos na areia
Constroem castelos de sonhos…
Deixaste a tua voz
No guarda-fatos lá de casa,
E nas noites que não me apetece brincar com ela…
Sinto-a na escuridão à minha procura,
Fazem desenhos na areia
Constroem castelos de sonhos…
Gritam alto pelo mar
E a tua voz traz-me o mar até mim…
Luís Fontinha
Alijó/Portugal