29 de Agosto de 2011,
Fim do dia,
Despede-se de mim o dia, procuro sobre a mesa-de-cabeceira as sobras do silêncio, e pequenas migalhas poisam sobre o naperon da velha Arminda, uma borboleta visita-me, olha-me e adormece na minha mão, termina o dia,
30 de Agosto de 2011,
Início do dia,
Começa a terça-feira, e lá fora oiço o mar que bate na janela do quarto, e oiço e oiço e oiço, e oiço as sombras engasgadas que aos poucos descem a parede e em direção ao pavimento desparecem, e nas fendas dos velhinhos tacos de madeira esconde-se a voz do locutor da rádio Até amanhã, se deus quiser!, e se deus não quiser, o amanhã não existe, e se eu não tenho amanhã concluo que é porque deus não quer,
Terça-feira, início do dia, e a anoite balança no pêndulo do relógio pendurado na parede da sala, e oiço-o, oiço-o de quinze em quinze minutos martelar os quartos de horas, as meias horas e as horas, e peco a paciência, e já nem ouvi-lo quanto mais olhar-lhe os anos esquecidos quando o trouxeram para casa,
O mar lentamente deixa de bater na janela do quarto, transfiro a borboleta da minha mão e que dorme carinhosamente e lentamente para o naperon da velha Arminda, desenho-lhe um sorriso sobre as asas, e espero que a manhã acorde,
Se acordar,
Se deus quiser que haja manhã,
A borboleta suspira, e eu apago a luz do candeeiro.