Quando cai a noite
E sobre a mesa sobras de nada
As palavras de ontem
As sílabas dentro do prato vazio,
Dos livros a finíssima poeira,
A dor engasgada na tolha,
O candeeiro que geme
E ais e uis tombam no pavimento,
O cortinado seminu em delírio
E uma mulher procura a sombra,
E na parede poisa um crucifixo
E ela acredita e ela pede-lhe,
E ele sorri,
E ele não a vai abandonar…
Quando cai a noite
E sobre a mesa sobras de nada,
Nem palavras,
Nem sílabas,
Nem vogais,
Nem o mar do outro lado da rua,
E porque choram os plátanos
Quando cai a noite?
E frestas de luz entram na mão da mulher
E o crucifixo desenha sorrisos na maré,
E cai a noite,
E das palavras estrelas perdidas,
E das sílabas palavras pregadas no céu,
E das vogais o silêncio da vida,
Recomeçar
E não desistir,
Amar…
E nunca, e nunca deixar de sorrir!