Todas as pedras
E todos os rios,
Todas as pedras
E todos os socalcos,
Em todas as manhãs
Um sorriso cresce no céu,
Uma lâmpada de néon emagrece
Conforme se vai acendendo a tarde
E da minha mão levantam-se gaivotas,
Cacilheiros em pedacinhos,
Um cão que ladra
E passa por mim sem morder,
Cacilheiros no tejo
E rabelos no douro…
E uvas nas videiras
E fome nas videiras,
Os donos das videiras com fome,
As lágrimas das videiras
Que correm para o rio
E não voltam,
Todas as pedras
E todos os rios,
Todas as pedras
E todos os socalcos,
Em todas as manhãs
Um sorriso cresce no céu,
O sol entra pela janela
E um petroleiro agarra-se ao meu corpo,
Abraça-me,
E percebo que sou um feixe de eletrões
Que viajam no tempo
À procura de um buraco negro,
Começa a noite
E o mar encosta-se à sombra dos plátanos,
Uma criança a brincar,
Outra criança a dançar,
E um senhor muito velho
Tropeça nas arcadas da noite,
Cai,
Cai a noite…