O lençol da manhã
Poisa suavemente nas acácias,
Uma menina tropeça na sombra de um guindaste,
E um petroleiro apressado
Faz-se ao mar,
Arregaça as mangas e evapora-se entre os ulmeiros,
A menina sorri para a janela das nuvens
E um relógio de pulso adormece nos olhos da menina,
O lençol da manhã
Que se esconde na algibeira do pequeno-almoço,
E um papagaio de papel nos céus de Luanda,
O cacimbo, o Mussulo, os musseques,
Desaparecem da finíssima folha da madrugada,
E Luanda deixa de existir,
É engolida pela saudade de uma criança
Que dorme no quintal
Abraçado ao triciclo da infância,
Um paquete chama-o,
E o menino finge que sorri,
E o menino esconde-se nos soluços do mar,
O lençol da manhã
Poisa suavemente nas acácias,
E o menino homem
Sorri quando vê pendurada nas nuvens
As mãos de finíssimos cabelos loiros,
Um corpo de mulher em gemidos sobre o chão de inverno,
Cai a neve na eira…
E o menino homem e a mulher, misturam-se na saliva da noite…