Se as minhas mãos fossem finíssimas folhas de papel
E os teus lábios as palavras para eu escrever,
Se nas minhas mãos habitassem árvores
Ou sorrisos de gladíolos,
Se às minhas mãos viesse o nascer do sol
Quando um corpo prensado na manhã
Se esconde entre as nuvens e a lua…
E as minhas mãos recheadas de lágrimas,
Cavalos invisíveis galopando na maré
E eu agachado na espuma dos teus seios,
Se as minhas mãos construíssem estrelas
E planetas e buracos negros e partículas de deus,
Nas minhas mãos
Crescem silvas embainhadas nas tardes de primavera,
Sombras que se extinguem na suavidade do teu corpo
E recuso-me a tocar-te, e recuso-me a acariciar-te,
E sinto medo de te aleijar,
Porque as minhas mãos parecem rochas,
Grãozinhos de areia que olham o pôr-do-sol…
Poeira que poisa sobre o mar.