Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Fev 11

 

MiLove

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:02

 

 

MiLove

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:59

 

Suspendo-me nos cabelos do vento
E tenho uma especial atracção pelo negro,
Gosto da noite negra,
Sinto em mim o negro que alimenta
 
A minha mão…
E ninguém, e ninguém repara que na minha mão
Existe uma madrugada
E malmequeres em flor,
 
E nos cabelos do vento
Uma pétala que se esconde,
Um sorriso de menina
Em traquinices brincadeiras.
 
Suspendo-me nos cabelos do vento
E os meus lábios ficam ressequidos
Quando o negro de um petroleiro
Vem fundear no meu peito,
 
E o meu peito sofre,
Geme no negro da noite…
E no meu peito habita
O negro dos cigarros…
 
Dói-me olhar o rosto negro
Das lágrimas floridas
E das pétalas despedaçadas,
Acorda a manhã
 
E o negro da noite
Morre,
Finge esconder-se em mim
E eu, um sonâmbulo da noite
 
Sofro com a claridade do dia,
Tenho medo da luz,
Preciso urgentemente
De um buraco negro para caminhar…
 
Luís Fontinha
27 de Fevereiro de 2011
Alijó
publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:57

 

O desemprego bateu-lhe à porta, uma filha para alimentar e a mulher diariamente engasgada na tosse, medicamentos para isto, medicamentos para aquilo, e nada, a tosse ouvia-se ao fundo da rua.
Erguia-se às cinco da manhã, apanhava o comboio rumo à cidade e de porta em porta, às vezes levando com a porta nas bentas, começava o dia na busca de um trabalho, qualquer coisa para alimentar a filha e medicamentos para a mulher, e ele, ele desenrascava-se, um cigarro aqui, outro ali, um cafezinho para aquecer as mãos, e sempre alguém se solidarizava com ele, ele o infeliz, e quando chegava a casa, mais morto do que vivo, as lágrimas corriam-lhe nas fuças quando a filha,
- pai tenho fome,
E ele nada tinha para que a Marta ficasse em silêncio,
E a mulher,
- encontraste alguma coisa?
Não nada.
- E tu como estás da tosse?
Tou nas mesma…
Murmurava dentro de si,
- raios me partam esta vida desgraçada,
Adormecia de barriga vazia, adormecia angustiado por deixar de escrever e pintar, e acordava sempre com a esperança que amanhã encontraria trabalho,
- amanhã tenho a certeza que vou encontrar,
Sonhava durante a noite com nuvens cansadas e que o sol tinha desaparecido, e às vezes via a Marta pendurada numa árvore, disfarçada de gaivota e dizia que ia voar,
- pai vou voar,
E o pai acordava todo suado e a Margarida entupida na tosse.
Descia a rua, crava um cigarro e na montra “precisa-se de Eonista” e enquanto estrafegava o cigarro pensava o que seria eonista, entra no estabelecimento e uma mulher gorda pergunta-lhe,
- bom dia, diga se faz favor,
E ele meio engasgado explica à senhora que vem pelo letreiro da montra e que não sabe muito bem o significado de eonista, a gorda sorri-lhe e explica-lhe que apenas tem de se vestir de mulher e fabricar um espectáculo das vinte e três horas às duas da manhã,
- só isso?
Só isso.
- E dinheiro?
Pagamos cento e cinquenta euros por noite,
- cento e cinquenta euros?
Sim.
Disse que sim á senhora, vendia as telas e alguns dos seus livros, ia à loja do chinês comprar os acessórios necessários e nascia a Marilu; Marilu, a rainha da noite.
 
 
Marilu
23 de Fevereiro de 2011
Lisboa
publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:55

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