Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Mar 11

Ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, tantos silêncios quando a tua mão poisar no meu olhar e com a minha mão afagar-te o sorriso, sim, o teu lindo sorriso, aquele, sabes, qual, o teu sorriso parvalhona, o sorriso com que acordas as gaivotas quando passeias junto à praia, ah…, vês como sabes, e as gaivotas de mãos nos bolsos a cumprimentarem-te com um simples bater de asas, ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, parvalhão, és muito parvo, traquina dos papagaios de papel, eu sei…, mas que te vou fazer cócegas, ai isso é que vou…

E vou libertar as tuas plantinhas prisioneiras na varanda, as minhas plantas, sim, as tuas plantas, e os teus cachimbos, que tem os meus cachimbos, os teus cachimbos não estão prisioneiros na estante junto aos livros, os meus cachimbos é diferente, pois é, são os teus cachimbos, miúda parva, parvalhão.

Ai menina dos pregos… tantas cócegas que te vou fazer, tantos silêncios quando a tua mão poisar no meu olhar e com a minha mão afagar-te o sorriso, e as gaivotas olham-te junto ao mar, e junto ao mar espetas pregos nas oliveiras, és muito parvalhão, e tu, eu o quê, tu és a menina dos pregos, a menina das oliveiras, a menina que tapa os buracos das paredes com pastilha elástica, és muito engraçadinho, pois sou, ai menina dos pregos…

Oh…

 

 

(texto de ficção)

FLRF

31 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:01

Assassinam-me aos poucos

Espadas em mim

Vozes em silêncio

Lábios perdidos no amanhecer

Converso com as sombras do teu olhar

E no meu corpo habita um pesadelo

Um monstro sem cabeça

Com asas mas não sabe voar…

Está na prisão de uma mão

Do meu corpo também ele sem cabeça

 

Assassinam-me aos poucos

Os olhos que se agarram aos malmequeres

As andorinhas que sobrevoam a minha janela

Quando as espadas no meu peito

 

E o meu peito sangra

Geme quando se acende uma luz

Quando espadas em mim

Me assassinam aos poucos

 

Não sinto a dor

Deixei de ter dor

Sinto apenas o frio do aço

A escorregar nos meus braços

 

Amarrados ao cortinado

Assassinam-me aos poucos

Espadas em mim

Espadas com dentes

 

Espadas com olhos

Espadas com uma cabeça

Espadas humanas

Que à minha volta sorriem

 

E saltitam quando caminho na rua

Também ela entupida de espadas

Em mim

Que me assassinam aos poucos.

 

 

FLRF

31 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:28

A cidade encerra as portas no crepúsculo da noite, uma janela semi-aberta deita-se sobre o mar, o soalho começa a ganhar vida, e na cidade alimento-me do sofrimento da maré, ao fundo da rua desço a calçada, meto no quelho da pensão, à porta, putas esperam por uma hora de carinho, meia hora paga a preço de ouro, é a única voz que oiço junto ao mar, e no cais um veleiro tenta engatar-me, começa a apalpar-me as pernas, eu frio na espinha, ele insiste, o meu corpo encolhe-se na água, emerge na noite, a cidade à minha espera, a cidade à espera dele, ele sozinho nas ruas desertas, um silêncio aproxima-se, e o jantar ficou na tarde de ontem, o veleiro quer-me, eu odeio-o, e apetece-me partir-lhe a cabeça, e ele sem cabeça à procura dos miúdos junto ao Tejo, o Tejo abandonou-me quando eu criança fumava cigarros nas suas margens, cigarros não, quando eu criança fuma charros nas suas margens, e sobre as minhas costas o comboio para Cascais. Eu sentado, eu olhando Almada, eu ao fundo da rua…

Deixei de ver o sol, deixei de olhar a lua, deixei de ver o sol das tardes junto ao Tejo, das saudades do meu corpo que ainda hoje deve passear-se junto ao rio, hoje eu sem corpo, hoje apenas ossos, um esqueleto suspenso em sofrimento, e ontem eu o sol, e ontem eu a lua, hoje não, hoje não nada.

A cidade encerra as portas no crepúsculo da noite, uma janela semi-aberta deita-se sobre o mar, o soalho começa a ganhar vida, e na cidade alimento-me do sofrimento da maré, ao fundo da rua desço a calçada, uma sombra a gritar-me, e eu a esconder-me nos braços do veleiro, tiram-me a cabeça, cortam-me as mãos, e eu sem cabeça, e eu sem mãos, eu apenas com braços nos braços do veleiro, o veleiro sorri, o veleiro quer-me na noite, e da noite uma roseira entala-se num plátano, o plátano em corrida acaba por tropeçar no néon das ruas, ao fundo da rua uma puta espera, desespera, e nas sombras sorri,

- vai uma voltinha, filho?

E a cidade encerra a janela, acenda a luz e se tiver sorte, se tiver sorte hoje tem jantar…

 

 

(texto de ficção)

FLRF

31 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:11

Apenas tenho as estrelas para olhar

E sinto-me feliz por isso

Há pessoas que nem as estrelas conseguem cativar

E eu

Tenho estrelas para conversar

Estrelas para brincar

 

Tenho na noite estrelas para amar.

 

 

FLRF

31 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:10

Sentado

À direita de um cachimbo

De água, (que sobre a minha secretária

Adormece, sonha e alimenta-se

Das minhas lágrimas nocturnas…)

Eu, senhor do infinitamente só,

Só nas noites de inverno,

Só para os amigos,

 

Eu… ser nada ninguém,

 

Sentado

Dispersamente na tua sombra

Que no delírio da madrugada,

Também ela só,

Também ela infinitamente só…

Se despede de mim!

 

E num jardim de lírios

Os nossos delírios…

 

As nossas mãos

Separadas pela escuridão do teu olhar,

O teu olhar que me deseja,

E me aprisiona às tarde de inverno,

A tua boca, um inferno,

Um silêncio de medo…

 

Eu… ser nada ninguém,

Infinitamente só,

Só para os amigos;

 

Sentado

À direita de um cachimbo de água!

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:48

Infelizmente

Não tenho palavras belas

Não existem palavras belas

E elas

As palavras que dizem ser belas

São simplesmente

Palavras deixadas no vento

São semeadas

Como se fossem uma semente

São regadas por mim

Que dentro do meu pensamento

O meu jardim

Estão sitiadas.

 

Infelizmente

Não tenho palavras belas

E as palavras donzelas

Certamente

Esperam por um olhar

O teu; aquele que me faz sonhar.

 

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:08

Amanhã as tuas mãos hoje de seda

São húmus dilacerado

São sonhos de infância

Amanhã.

 

Amanhã as tuas mãos hoje de seda

São o meu cansaço

A Galáxia onde nasci

E hoje

Tão distante estou…

Amanhã

São o infinito

São electrões, positrões, e tudo que termine em ões…

 

Amanhã.

 

Amanhã as tuas mãos hoje de seda

São o Outono

Triste

Cansado…

 

E será que amanhã

Estarei vivo

Para ver as tuas mão hoje de seda

Serem húmus dilacerado?

 

Possivelmente, não…

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:05

Sobram-me as mãos na algibeira e o sol acorrenta-se aos meus braços, fico preso, suspenso na ponte entre a vida e a morte, estou na fronteira, e desejo desenfreadamente perceber o que existe para lá do abismo; fascina-me o negro.

O negro da noite, o negro do frio universo, os buracos negros, fascinam-me os relógios de paredes pendurados no negro da sala, eles parados, comidos pelas horas, eu escondido dentro do guarda-fatos à espera que o dia adormeça e acorde a noite, negra.

Fascinam-me os taquiões, fascinam-me os protões e electrões, fascinam-me os átomos de que é feito o meu corpo, merda, porcaria que não serve para nada, e sobram-me as mãos na algibeira e o sol acorrenta-se aos meus braços, fico preso, suspenso na ponte entre a vida e a morte, e não sei se quero viver, e não sei se quero morrer, e não sei o que faço neste país, nesta terra de ninguém, e se deus existe, se deus existe é um grande filho da puta para mim, sempre o foi, o negro da noite escondido no espelho do meu quarto, eu deitado na minha cama e a minha cama em suspiros e gemidos, e no pavimento oiço as lágrimas da noite, escura. O negro.

Estou no oceano, e daqui a pouco afundo-me, pluf… fundo do mar, quero nadar, não consigo, as mãos ficaram na algibeira e os braços, os braços acorrentados ao sol, começo a rodopiar, e em espiral o meu corpo desiste, cansa-se, fica indiferente.

O negro da noite, o negro do frio universo, os buracos negros, fascinam-me os relógios de paredes pendurados no negro da sala, e aos pouco, eu aos poucos a afundar-me no negro do oceano.

 

 

 

(texto de ficção)

FLRF

31 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:38

Numa mão, tenho uma pedra de vinte e três faces,

(Ao som de Pink Floyd)

Na outra mão, uma corda imaginária,

Uma ponta ato-a à pedra de vinte e três faces

E a outra, passo-a pelo meu pescoço,

Rio-me perdidamente,

Dou um passo em frente

Direito ao abismo,

E curiosamente,

Não cai-o, fico suspenso; eu, a pedra,

E as vinte e três faces.

 

Concluo que deixou de haver gravidade,

Talvez deixe de haver gravidez,

Talvez…

Talvez os nove virgula oito metros por segundo

Voltem, talvez, a ressuscitar

Ao terceiro dia,

Talvez…

À minha volta, riem-se da minha figura,

Suspenso com uma pedra de vinte e três faces,

Uma corda, e o meu pescoço,

Para que me serve esta porcaria (pescoço),

Acima dos ombros

Abaixo da cabeça,

Apenas para atar uma corda…

E com uma pedra de vinte e três faces,

Ficar suspenso.

 

Voar.

 

Não foi a gravidade

Que deixou de acordar,

Não foram as mulheres que deixaram de engravidar,

Foi sim o teu olhar que me aprisionou,

(Não, não estou a falar de uma mulher)

E o meu corpo não resistiu

À tua força gravítica,

Possivelmente

Talvez…, brincando às escondidas, como uma criança

Em rotação pela infância,

Num qualquer buraco negro do universo,

Com verso

Conversando com o infinito.

 

És feito de tungsténio

Revestido a silêncios madrugada,

Sorris quando cada uma das tuas faces

Adormece na sombra da rotação

Da face anterior,

E tu, hipercubo da minha imaginação,

Olhas-me com carinho,

Medo de me perder;

Porque tu

Não dizes que sou louco,

Porque tu

Sabes ouvir-me quando preciso,

Porque tu

Sabes ler o fumo do meu cigarro,

Porque tu.

 

Porque tu

Deixas-me suspenso com uma pedra de vinte e três faces…

 

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:00

Às vezes esqueço-me que sou humano

Penso ser

Não ser humano

Ser

Uma integral dupla

Com limites da paixão

Ao ser

Ser poeta desencontrado

E tal como um pintor

Que faz nascer traços na tela

 Eu dou vida ao papel

A minha tela

E a esferográfica

Os pincéis do pintor

Às vezes esqueço-me que sou humano

Penso ser

Não ser humano

Ser

As lágrimas do teu rosto

No acordar da noite

E o dia cansado

Despede-se do teu olhar

Do ser ausente

Iluminado

Eu ser

Ser poeta desencontrado

Às vezes esqueço-me que sou humano

Penso ser

Não ser humano

Ser

A distância que nos separa

Não é distância física

Barreiras papáveis

Mas nesta distância imaginária

Fictícia na luz que nos ilumina

Penso ser

Não ser humano

Ser

Poeta desencontrado.

 

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:58

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