Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

01
Mar 11
publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:25

Sinto-me supérfluo e as rosas do meu jardim

Em revolução,

Em protesto pelo pão

Dissolvido em pétalas longe de mim,

 

Escondidas nas sombras que da minha mão

Acariciam infinitamente a terra prometida,

Uma rosa amarela na ânsia da partida

Despede-se do meu coração…

 

Abraça-me e oferece-me um beijo

E dos meus lábios acorda a madrugada,

Sinto-me supérfluo e a rosa amarela cansada,

Sem pão, à espera de um desejo.

 

 

Luís Fontinha

1 de Março de 2011

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

Do meu imaginário encontra-se estacionada uma ida ao circo em Luanda, a alegria de ver os palhaços, que tal como na vida, o palhaço rico e o palhaço pobre, o ser humano rico e o ser humano miserável, os meus movimentos suspensos na bancada, o dinheiro era pouco e não dava para sentar o meu rabinho em cadeiras de luxo, aí luxo, eu, palhaço pobre, mas feliz,

- A trapezista em fuga,

O baleizão. Na esplanada do baleizão ao final da noite, depois do circo, o desejo de um gelado, a alegria de olhar os machimbombos em horário ordenado, e eu em Lisboa a gritar por eles, e eles indiferentes a mim, e o taxista com cara de parvo por eu chamar aos autocarros machimbombos, coisas de criança, lembranças de África.

- Em fuga da miséria a que estava habituada, ele tantas coisas, ela quase nada, ele apaixonado por ela, ela a ensaiar coreografias no trapézio, talvez de estômago vazio, ele sorria de cabecinha para o ar,

Olha um machimbombo.

O machimbombo passava apressadamente numa Lisboa em construção, virava a cabecinha para mim e num sorriso de criança,

- A trapezista enviava-lhe beijos à distância, ele acenava-lhe e prometia-lhe sossegos, ela respondia com beijos, e durante a noite, ele, o menino do circo, sonhava com a trapezista que voava sob as árvores estacionadas na primavera,

Num sorriso de criança que deixei enterrado junto ao capim, e que hoje, já nem o cheiro recordo, o cacimbo a apoderar-se de mim, a sombra das mangueiras, a terra húmida acabada de tomar banho,

. Ele seis quilómetros a pé na peugada de um circo miserável, ambulante, porque uma trapezista em coreografias arriscadas, na noite, à noite, enviava-lhe beijos suspensos na noite,

Hoje, o circo é outro. O palhaço pobre ficou esquecido na madrugada tal como os machimbombos ficaram estacionados numa Luanda adormecida. Hoje, o circo é outro, e deste circo não gosto, são muitos os palhaços, são muitos os palhaços ricos…

 

 

Luís Fontinha

7 de Janeiro de 2011

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:04

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:43

 

Escrevo nas lágrimas
Os versos da madrugada,
De sílaba em sílaba o cansaço
Das palavras,
 
O sangue que humedece o papel
De que é feito um sorriso,
O mesmo sangue de frases
Que jorram do meu coração…
 
Poema que junto ao meu peito
Alimenta as minhas veias de textos,
Limito-me a contornar as vírgulas
E acabo por adormecer junto ao rio…
 
 
Luís Fontinha
1 de Março de 2011
publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:29

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