Vagueio juntamente com a sombra
E descemos a calçada.
O silêncio é pouco
E da noite caem flores mortas,
Nos meus ouvidos escrevem-se palavras de revolta
Que o meu olhar não consegue perceber,
Abro a boca, e apenas consigo acordar
A palavra fome,
Alimento-me de sílabas
E das palavras cozinho textos
Que são o meu jantar ao deitar; - vagueio juntamente com a sombra.
E os malmequeres deixaram de sorrir
E todas as flores, mortas.
A areia fina do mar transformou-se em rochas escuras
E o próprio mar deixou de ondular,
E as sombras agarradas aos meus braços,
E da minha boca tirando a palavra fome
Que acabei de acordar,
Começo a vomitar a palavra “basta de palhaçada”…
E o pôr-do-sol deixou de brilhar.
Vagueio juntamente com a sombra
E descemos a calçada.
O silêncio é pouco
E da noite caem flores mortas,
Os pássaros nunca mais pendurados nos plátanos
E mesmo a calçada começa a sofrer de solidão,
A água dos rios cansada de correr para o mar…
E junto ao mar… não barcos,
Apenas esqueletos pendurados nos sorrisos dos palhaços.
Vagueio juntamente com a sombra
E espero pela madrugada…
Talvez eu tenha estado a sonhar…
Luís Fontinha
9 de Março de 2011