Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Mar 11

A noite vem buscar-me para o sono

E eu não sono

Eu sentado na calçada

À espera de um malmequer

 

Que no outro lado da rua

Olha-me como se eu fosse um malfeitor,

Eu sem sono

E eu não sono

 

O olhar a estrela perdida no céu

Que se cansou da minha presença…

A noite vem buscar-me para o sono

E o meu sono dorme profundamente,

 

E quando acordará?

E eu não sono

Sem sono…

À espera do malmequer!

 

 

Luís Fontinha

23 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:02

Os gajos dizem que não preciso de dinheiro para viver; e não preciso.

Levanto-me às oito horas da manhã e fumo três cigarros enquanto liberto a porcaria pelo rabo que me ficou esquecida da noite anterior, não tenho dinheiro para comer, alimento-me de livros, baixo a cabeça e no fundo da sanita vejo um poema de Al Berto a boiar, não cheira mal, e mais ao lado vejo frases do livro de A. Lobo Antunes “que fazei quando tudo arde?”, e fico-me na pergunta,

- quando tudo arde findam-se-me os cigarros,

E muitos perguntarão como tenho cigarros se não tenho dinheiro, e eu sinceramente respondo,

- não tenho dinheiro e dão-me cigarros, e às vezes, cinco euros que não servem de nada, mas sempre me sinto mais feliz com cinco euritos no bolso,

Tomo banho, pequeno-almoço um poema de Mário cesariny e começo a escrever porcarias sem nexo, mais um cigarro, mais uma ida à casa de banho, e café só às vezes quando o meu amigo Delfim (Magalhães) me paga um ou dois,

- ah… e às vezes compra-me um macito de cigarros,

O almoço hoje não, doíam-me os olhos, não li, não me alimentei de palavras,

- e as palavras à minha espera em cima da mesa,

E eu direitinho para a cama fazer uma sestazinha, descansar o estômago das palavras encalhadas na minha cabeça e enquanto passo pelas brasas, não fumo, não gasto cigarros que me fazem falta para a noite,

E hoje tenho da lanchar, e hoje vou ter de comer uma sandes porque isto de comer apenas palavras também não será muito saudável,

. digo eu,

Os gajos dizem que não preciso de dinheiro para viver; e não preciso.

E os gajos preocupados com o pote,

- e o pote, pá?

E eu passo o jantar em branco. Vou directamente para a cama e antes de dormir vou comer mais umas folhinhas de um livro qualquer,

- e os gajos preocupados com o pote; agora sou eu a comer porque tu já comeste…

E eu, pá?

E eu não preciso de comer?

Levanto-me às oito horas da manhã e fumo três cigarros enquanto liberto a porcaria pelo rabo que me ficou esquecida da noite anterior, olho-me ao espelho e,

- como eu sou tão feliz!

E os gajos preocupados com o pote,

- e o pote, pá?

 

 

 

Luís Fontinha

23 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:57

Acho-me incapaz de caminhar

Junto ao rio que me viu partir

Sento-me na sua margem

E pego num livro para ler,

Digo adeus aos peixes que saltitam

E converso com as algas à minha beira…

Estou triste hoje.

Sei que em mim brincam lágrimas

E do meu rosto emerge a escuridão,

E aos poucos cresce a noite

E acorda a saudade,

Finjo estar contente…

 

E acredito que amanhã estará sol.

Acho-me incapaz de caminhar

Junto ao rio que me viu partir

Quando no meu corpo

 

Ainda habitavam as manhãs de primavera.

Agora sei que manhã não vai estar sol,

E que amanhã voltarei a ter lágrimas…

Porque amanhã eu incapaz de caminhar

 

Junto ao rio que me viu partir.

 

 

 

Luís Fontinha

23 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:52

Nos meus lábios poisam gaivotas

Que do oceano me trazem tristeza.

Nos meus lábios poisam gaivotas

E na minha boca cresce uma sombra,

 

Ergue-se a tempestade,

E uma abelha fica esquecida na minha mão…

Poisam gaivotas nos meus lábios

Como se o sol estivesse dentro de mim,

 

Como se a minha mão fosse o pólen…

O alimento apetecido das abelhas.

Do oceano me trazem tristeza

As gaivotas que poisam nos meus lábios.

 

 

Luís Fontinha

23 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:47

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