Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, espera, espera e abre-se a porta, cabelos loiros, olhos azuis como quando o céu límpido de uma manhã de primavera acaba de acordar, mãos meigas e macias, ele frente a frente com um corpo esculpido na madrugada, pede licença, entra, dirige-se à janela, abre a janela, e, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,
- made in china,
O meu portátil Toshiba Portégé M800 com quatro GB de memória RAM acaba de se suicidar, e nada que me surpreenda, há muito que eu notava nele fragilidades de cansaço, e às vezes parecia-me distante, ausente, e na noite ouvia-o,
- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…
A vizinha aos gritos, e da janela do 8º D apenas conseguia distinguir,
- made in china,
E os malmequeres suspensos na faixa de rodagem, ora inclinados para a direita, ora inclinados para a esquerda, ora tombados no chão, e eles não mede in china, eles,
- eles filhos de um deus arrogante, malcriado,
Eles à espera do acordar do sol, e o sol escondido nas nuvens, eles tombados na faixa de rodagem a olharem o made in china que em pedacinhos esperava pacientemente a vinda da policia, delegado de saúde, ministério publico, e causa de more,
- queda do 8º andar direito, suicídio ou homicídio, ou simplesmente o desespero, interrogar a vizinha, e a vizinha,
Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, oferece um ramo de flores à madame, e a madame em suspiros de desejo,
- bateram-me à porta e quando abro, abro e deparo-me com um portátil que me oferece um ramo de flores, abraça-me, beija-me, começa a despir-me e quando dou conta está a encabar-me por trás, e,
E violou-a?
- Não. Eu também queria e foi bom…
E depois,
- e depois foi à janela, abriu a janela, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,
Made in china…
E foi bom.
- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…
(texto ficção)
Luís Fontinha
24 de Março de 2011
Alijó