Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mar 11

Abraça-me

Abraça-me só hoje

Que é a ultima noite minha

Abraça-me porque tenho medo da escuridão

Só hoje

Abraça-me como só tu sabes fazer,

 

E protege-me da madrugada.

 

Abraça-me

Abraça-me só hoje

Que é a ultima noite minha

E amanhã partirei…

 

E amanhã não haverá alvorada.

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:33

Eles todos peneirentos

Armados em mete nojo

Arrogantes

Filhos de um bojo

 

(se não sabem o significado de bojo… dicionário)

 

Há por aí tanto ignorante

Mal feitor

Pensam que são gente importante…

Mas não passam de um impostor

 

Sou filho de gente pobre

Sou pobre de nascença

Eu sou nobre

Desde criança

 

E dizem que sou maluco.

Malucos são os que me chamam de louco

Hoje, hoje preciso de um trabuco

E um trabuco seria pouco…

 

(se não sabem o significado de trabuco… dicionário)

 

Há por aí tanto ignorante

Mal feitor

Doutores na Independente…

E esta gente merece um louvor…

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:15

Olho no espelho o meu rosto amargo

E tenho medo à minha imagem reflectida,

Sou perseguido pelas sombras da noite

Quando o meu quarto entra em transe

 

E vai esconder-se dentro do guarda-fatos minúsculo.

Se eu pudesse também me escondia

E ao lado da noite construía…

Nada.

 

Que posso eu construir

Quando na minha mão habita a miséria

E no meu cérebro vivem palavras que ninguém,

Ninguém, que ninguém compreende e critica,

 

Pensam que estou louco,

Doente,

Eu doente?

A minha doença chama-me fome…

 

Não aquela fome que o estômago compreende,

A minha doença chama-se fome de sofrer.

Olho no espelho o meu rosto amargo

E tenho medo à minha imagem reflectida;

 

E serei eu o que aparece no espelho?

E se eu for uma abelha

E o que aparece no espelho uma sombra?

E se a sombra for uma abelha

 

E eu o espelho onde habita o meu rosto?

E se abelha deixar de ter asas

E no meu rosto nascerem gaivotas?

Olho no espelho o meu rosto amargo

 

E percebo que hoje é um péssimo dia

Para adormecer…

Porque hoje o meu rosto não voa

Nas asas da abelha…

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:21

Meu deus

Que deixas as minhas mãos em sangue

E nos meus lábios alimentas

As palavras de revolta,

 

A minha boca em gritos esparsos

E da minha cabeça um plátano suspenso

E os meus gritos na sombra

Cruzam-se com a madrugada.

 

Meu deus

Como admiro a tua arrogância

A tua forma de me tratar…

E em tantos milhões de seres

 

A mim me escolhes para sofrer.

 

Meu deus

Que deixas as minhas mãos em sangue

E o meu corpo feito em pedacinhos

E quando passo na rua

 

A humilhação de ser o que sou.

 

Meu deus

Como admiro a tua arrogância…

Podia chamar-te todos os nomes,

Podia dizer-te que quero que tu te…

 

Mas simplesmente te ignoro.

Mas simplesmente quero que tu te…

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:39

É triste ser-se pobre

E mais triste será

Quando se é ignorante,

É triste ser-se pobre

E eu sou tão pobre…

E eu sou tão nobre.

 

É triste ser-se pobre

E mais triste será

Quando se é ignorante,

É triste ser-se pobre

E quando não temos de comer,

E eu tão feliz porque tendo livros para ler

 

Não sou ignorante.

É triste ser-se pobre

E eu sou tão pobre…

Um libertino decadente.

 

É triste ser-se pobre

E eu sou tão pobre,

Tão pobre que não tem de comer…

Mas tem palavras para escrever.

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:41

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, espera, espera e abre-se a porta, cabelos loiros, olhos azuis como quando o céu límpido de uma manhã de primavera acaba de acordar, mãos meigas e macias, ele frente a frente com um corpo esculpido na madrugada, pede licença, entra, dirige-se à janela, abre a janela, e, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

- made in china,

O meu portátil Toshiba Portégé M800 com quatro GB de memória RAM acaba de se suicidar, e nada que me surpreenda, há muito que eu notava nele fragilidades de cansaço, e às vezes parecia-me distante, ausente, e na noite ouvia-o,

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

A vizinha aos gritos, e da janela do 8º D apenas conseguia distinguir,

- made in china,

E os malmequeres suspensos na faixa de rodagem, ora inclinados para a direita, ora inclinados para a esquerda, ora tombados no chão, e eles não mede in china, eles,

- eles filhos de um deus arrogante, malcriado,

Eles à espera do acordar do sol, e o sol escondido nas nuvens, eles tombados na faixa de rodagem a olharem o made in china que em pedacinhos esperava pacientemente a vinda da policia, delegado de saúde, ministério publico, e causa de more,

- queda do 8º andar direito, suicídio ou homicídio, ou simplesmente o desespero, interrogar a vizinha, e a vizinha,

Ele entra em modo de suspensão, fecha a tampinha e sai porta fora. Sobe apressadamente as escadas, bate à porta do 8º D, oferece um ramo de flores à madame, e a madame em suspiros de desejo,

- bateram-me à porta e quando abro, abro e deparo-me com um portátil que me oferece um ramo de flores, abraça-me, beija-me, começa a despir-me e quando dou conta está a encabar-me por trás, e,

E violou-a?

- Não. Eu também queria e foi bom…

E depois,

- e depois foi à janela, abriu a janela, e vai ele experimentando a lei da gravidade até chegar ao pavimento, ele todo em pedacinhos,

Made in china…

E foi bom.

- os malmequeres? Não vejo os malmequeres junto ao rio…

 

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:28

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