Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

26
Mar 11

Não preciso do teu rosto

Não quero os teus lábios

E dispenso o teu sorriso…

Dá-me apenas a tua voz

 

E com ela constrói uma frase;

Estou aqui, estou aqui ao teu lado.

 

Não preciso de dinheiro

Tão pouco de um automóvel

Ou de um palácio.

Dá-me a tua voz

 

E uma cabaninha serve-me perfeitamente

E que seja junto ao mar.

 

Não preciso do teu rosto

Não quero os teus lábios

E dispenso o teu sorriso…

 

Dá-me apenas a tua voz

 

E com ela constrói uma frase;

Estou aqui, estou aqui ao teu lado

E nunca, nunca, e nunca te vou deixar cair…

 

 

 

FLRF

26 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:23

 

 

Olho pela janela, chove. Coloco os óculos no meu rosto emagrecido, estou magro, às vezes cansado, faço umas brincadeiras com a caneta e dou conta que na minha mão nada, comporto-me como se lá tivesse poisada uma pena, dou umas baforadas no cachimbo de água, olho fixamente para a folha de papel que em cima da secretária adormece, e aos poucos as palavras começam a alimentar-me o cansaço,

 

“ Junto ao mar, 26 de Março de 2011

 

Meu querido,

 

Toda a tarde esperei por ti, mas tu hoje não vieste. Senti a tua falta meu desespero, e recordei quando entras em mim e dentro da minha cabeça ditas as palavras que eu escrevo no vento, mas tu meu desespero, tu hoje não vieste.

Não comi quase nada hoje.

A tristeza entrou-me pela porta, e reparei que no jardim as árvores estão tristes, talvez porque choveu, talvez porque hoje é sábado.

Não comi quase nada hoje, e durante a tarde, à espera que viesses, andei descalça junto ao mar, e a areia alivia-me este cansaço que dentro de mim habita, este desassossego de não estar feliz nunca, de não conseguir adormecer sem os teus carinhos, sem as palavras que me ditas e eu as escrevo no vento.

Toda a tarde esperei por ti, mas tu hoje não vieste. Senti a tua falta meu desespero, e não percebo porque chove tanto e o mar tão calmo, o mar calmo e a minha mão espera pela tua, e sei que te escondes em qualquer pedacinho desta praia, mas por mais que eu olhe, não te encontro.

Meu querido desespero, se me estás a ouvir vem junto a mim, pega na minha mão, pega na minha mão e leva-me para dentro do mar; se me estás a ouvir, preciso de ti…

 

Eu sempre tua,

 

Marilu”

In Crónicas de um Travesti; carta ao desespero (3)

 

E o cansaço disperso no pavimento como se o sol tivesse deixado de acordar, olho pela janela, chove. Coloco os óculos no meu rosto emagrecido, estou magro, às vezes cansado, poiso a caneta na secretária e enquanto a minha mão fica em liberdade, o poema sobe-me pelo braço até à boca, e nos meus lábios soltam-se sílabas, e sinto as frases voarem pelas paredes do meu quarto, e o poema é poema,

 

Junto à ribeira

Deixo a minha mão adormecida

E nos meus olhos

Vive o monstro da noite

 

Sento-me no xisto esquecido pela tempestade

E as lágrimas invadem o meu rosto

Junto à ribeira

A minha mão que se afoga na água da madrugada

 

E o meu corpo despede-se de mim

Separa-se em pedacinhos

Raios de sol

Que pela manhã entram no meu quarto.

 

Olho pela janela, chove. Pego nos óculos e poiso-os na secretária, dou duas baforadas no cachimbo de água e fecho os olhos.

 

 

 

(texto de ficção)

FLRF

26 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:59

Andas tão ocupada

Que me ignoras

Andas tão ocupada primavera

Que esqueceste onde moras

 

Que perdeste o gosto da saudade

Andas tão ocupada primavera

Que dizes às nuvens a não verdade

E ao sol atiras-lhe pedras

 

Andas tão ocupada

Que me ignoras

Me esqueces na rua em construção…

Andas tão ocupada primavera

 

Que no sorriso da vaidade

Cresce-te um plátano no coração

Andas tão ocupada

Que eu tenho de me abraçar à solidão.

 

 

Luís Fontinha

26 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:50

Tenho em mim este corpo desencontrado

Fundeado no infinito da manhã

E acabo de acordar…

E pegar neste corpo amarrotado

 

Nas pregas da noite anterior

Tenho em mim estas mãos emagrecidas

No complemento dos braços esticados

À espera de abraçar

 

O mar que se perde junto ao portão

Do meu jardim sem malmequeres

No meu jardim outrora paraíso do meu coração

Quando em todas as manhãs um sorriso

 

Acordava na minha mão

Tenho em mim este corpo desencontrado

Filho da tempestade do passado

Do passado que me prende ao cais

 

E me impede de navegar

O mar já me pertenceu

E o vento a minha força

Hoje eu desencontrado

 

Encalhado nas estrelas do céu

E perco as palavras que a minha boca silenciou

Fundeado no infinito da manhã

Quando a tua voz me tocou.

 

 

Luís Fontinha

26 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:51

Quem sou eu? Quem sou eu, pergunto-me e pergunto aos pássaros, pergunto-me e pergunto às sombras, pego na minha mão e pergunto-lhe,

- olha, quem sou eu?

E ninguém, ninguém, e ninguém consegue dizer-me quem sou eu, o que faço aqui, sim aqui, aqui onde, aqui neste sitio escuro, longe do sol, aqui onde ninguém, ninguém nem eu, sabemos quem sou eu.

- Olha, quem sou eu?

Quem sou eu? Quem sou eu, pergunto-me e pergunto às estrelas, e as estrelas remetem-me para os perdidos e achados, porta lado esquerdo fundo do corredor, passo apressadamente o corredor, eu em frente à porta, a porta olha-me, e a minha mão esconde-se atrás das costas, e percebo que com a mão escondida, com a mão escondida não posso bater à porta, e a porta faz-me caretas, arreganha-me os dentes e eu,

- eu, quem sou eu,

E pergunto-me e pergunto às gaivotas junto ao rio, quem sou eu, eu que ficou esquecido na noite, eu que sente a falta de um simples abraço, um apenas, e a sombra não, a sombra a recusar-se abraçar-me, e pergunto-me e pergunto à porta,

. sabes tu quem sou eu?

A porta não aberta, a porta fechada, e eu, eu pergunto-me e pergunto quem sou eu…

E ninguém, ninguém, e ninguém se preocupa em me explicar quem sou eu.

- Olha, quem sou eu?

E os pássaros não eu, e as sombras não eu, e a minha mão não eu, e eu, e eu em frente a uma porta antipática, malcriada e feia, a porta fechada, e a porta não eu.

- Olha, quem sou eu?

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

26 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:05

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