Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Mar 11

Eu nas ruas da cidade

Mal tratado pelos paralelos da calçada

No candeeiro do jardim

Um pássaro olha-me

E defeca sobre a minha cabeça

Passo a mão

E na minha mão o presente envenenado

A tão desejada “merda”

 

Nas ruas da cidade

Quando o mar fica furioso comigo

Eu mal tratado

Eu sem abrigo

 

Eu cheirando a “merda”

Eu sou a “merda”.

Nas ruas da cidade

Eu saltitando de rua em rua

De tasca em tasca

De “puta” em “puta”

E “puta” nenhuma

Nenhuma na esquina da pensão

 

Quando o mar entra pela janela

E na minha cama a tão desejada “merda”

Eu mesmo…

Deitado seminu e sonâmbulo

Com três cabeças

E cinco pares de asas

 

E de mim acorda o fedor

Deixei de tomar banho

Não desfaço a barba

E vou dar lustro ao cabelo

 

Nas ruas da cidade

Eu saudade

Eu à espera de petroleiros

Que me olham como “paneleiros”

Eu engasgado

Nos paralelos que me comem aos pedacinhos

 

Me engolem devagarinho.

 

Eu com cinco euros

Dois maços de cigarros,

Digam-me senhores e senhoras

Rapazes e raparigas da esquina

Digam o que me interessa a mim o FMI

Vão tirar-me o subsídio de férias?

Vão tirar-me o subsídio de Natal?

Quero tanto rir-me… eu nem vencimento tenho

 

Venham esses “filhos da puta”

Quero lá saber.

 

Eu nas ruas da cidade

E a cidade aos poucos cospe em mim

A cidade revoltada com o meu cheiro intenso a “merda”

Mas eu tenho direito a voto

Não pago impostos

Não recebo subsídios de “merda” nenhuma

 

Sou muito feliz

E sou Libertino.

 

(Ao grande Luiz Pacheco)

 

 

FLRF

28 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:32

Hoje um péssimo dia. Palmilhei as ruas pedinchando e nada, nem uma moedinha, nem um cigarrinho, nada, nem um pratinho de sopa. Hoje péssimo dia. Há dias assim.

Dói-me o estômago, e a fome toma conta dos meus braços, sinto-me levemente nas ruas da cidade, e começo a ficar desprovido de peso, a roupa dança-me no corpo a valsa da fraqueza e os sapatos parecem pertencer a um defunto esquecido num banco de jardim.

Dói-me o estômago e hoje apenas me alimentei de um texto de Luiz Pacheco, o gajo é maluco, mas é melhor que nada, e percebo porque há pouco enquanto defecava pela calçada começaram a correr palavras do Libertino e das Cartas ao Léu, mas se a comida é pouca a defecação também não poderá ser muita…

Hoje um péssimo dia. Palmilhei as ruas pedinchando e nada, nem uma moedinha, nem um cigarrinho, nada, e dou conta que a cama em papas, os papelões encharcados pela chuva, o pobre quando anda em maré de azar até os cães lhe mijam nas botas, e o pançudo do meu cão agora cismou que quer ser deputado, e começou a aprender a escrever,

- já escrevo o meu nome,

Aos poucos e devagarinho aprender a ler,

- juro pela minha honra…

E qual honra qual carapuça,

E por fim aprender a contar, um dois três,

- três mil euros mensais,

Dói-me o estômago e hoje apenas me alimentei de um texto de Luiz Pacheco, o gajo é maluco, mas quando a fome aperta tudo serve para dar corda aos sapatos…

 

 

 

(texto de quase ficção)

FLRF

28 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:25

Mais tarde, a flor

Cansou-se de dançar,

E ainda hoje, este amor

Está presente naqueles que conseguem sonhar.

 

Mais tarde, a flor

Cansada que estava,

Encontrou o seu amor

A flor que amava…

 

 

FLRF

28 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:44

Recuso-me a sair da cama, hoje não, recuso-me a sair da cama e olhar a tristeza do meu jardim. E apenas uma parva de uma bananeira me dá atenção, as roseiras tristes, as roseiras só com espinhos, e hoje recuso-me a sair da cama.

As paredes do meu quarto em lágrimas e do sorriso que nelas abunda um pássaro sem asas deita-se na minha mão, sacode-se, e acaba por defecar-se, sorrio e cubro-me com as mantas esquecidas da noite, e hoje não, hoje não saio da cama.

Hoje apetece-me portar mal e não tenho com quem, hoje apetece-me não sair da cama e atirar pedras aos vidros da minha janela, trazer o cão para o quarto e ensiná-lo a ler, e ensiná-lo a escrever, e ensiná-lo a fazer contas…

Recuso-me a sair da cama, hoje não.

 

 

FLRF

28 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:29

Eu entalado entre sílabas

Nos olhos tenho o A

E nos lábios sou pressionado pelo Mor

A- mor

 

Vem a gai-vo-ta poisar

Na minha mão trémula de A-mor

E eu a-pai-xo-na-do pelo amanhecer

Entre sílabas

 

E onde guardar a pai-xão?

Poi-sar na minha mão

A gai-vo-ta junto ao Pai

E deitar-me no Xão.

 

O amor

A gaivota

Apaixonado

Poisar

Na paixão

 

Eu entalado

Entre sílabas.

 

 

 

FLRF

28 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:57

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