Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Abr 11

Cresce-me no peito um peso imensurável

Trazido pelo fim de tarde

Cresce-me no peito o cansaço da solidão

Num campo de malmequeres

 

Corre um rio na minha mão

Que desagua no meu peito

Apertado pela dor

Espremido pela chuva

 

E corre apressadamente no relógio de parede

O peso do meu peito

O sufoco do dia que nunca mais termina

Sem fim…

 

Sem cor os meus dias pintados numa parede

E a parede esconde-se da luz

Fica negra

E geme no silêncio da noite escura.

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:57

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

Rio que corre apressadamente

Entre os socalcos de xisto

 

Na humidade da madrugada.

Os poemas em mim

Saltitando de fresta em fresta

Ou adormecidos no espelho do guarda-fatos

 

À espera que a minha mão

Lhes dêem vida

Nos meus cansados braços

Quando me sento no parapeito da janela

 

E sem forças para me lançar

Voar.

Dentro de mim crescem poemas

Como os silvados da montanha

 

Ou as gaivotas à beira mar

Com a cabeça enterrada na areia

De asas estendidas ao vento

Esperando a chegada da maré.

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:37

Chove, estou feliz, hoje, quando chove, sei que vens. E hoje chove, e não me apetece abrir-te a porta, detesto quando chove, não posso brincar no jardim, e eu sei que vens, só vens quando chove…, existe um mundo totalmente novo lá fora, e as partículas de deus existem mesmo, acreditas, eu acredito, e sabes, querida, até acredito que só vens quando chove; hoje chove.

E se tudo isto, o mundo, sim, o mundo, foi uma experiência falhada dos cientistas, e tal como hoje, ao quererem recriar o big bang, a experiência telha falhado e ficado fora de controlo, e cá estamos nós, tu és mesmo louco.

Aos poucos, às vezes, devagar, outras, apressadamente, corto as correntes que me prendem ao teu passado, começo a correr, não olho na tua direcção, e escondo-me quando passo por ti, e agora, que começo a ser livre, posso voar livremente sem as tuas amarras, sei que ao fundo da esquina, entre a saudade e o sonho, a tua sombra segue-me, mas eu finto-a, sou mais rápido, e ela, não consegue apanhar-me.

Chove, e enquanto espero por ti, caminho na rua, converso com as gotinhas de água que caem das nuvens, são tão feiinhas, tão tristes, as nuvens, tudo, e uma gotinha disse-me que amanhã não vai chover, tu não virás, eu não vou para a rua conversar com as finíssimas gotinhas de água, sabes quantos quilómetros faz um gotinha de água até chegar a ti, e repentinamente conversar contigo, ouvir-te, saber escutar o que dizes, e as partículas de deus, que tem, o que são, são as partículas de deus, um mundo fascinante por descobrir, como é possível dois protões colidirem à velocidade da luz, é, será a luz o limite, da velocidade queres tu dizer, sim, da velocidade, e se é possível viajar a velocidades superiores à da luz, cerca de trezentos mil quilómetros por segundo, é tanto…, em teoria não é possível, e a massa seria infinita, e a energia, que teem, a energia libertada seria muito grande, imagina um objecto a trezentos mil quilómetros por segundo, e como a energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado, já deves imaginar, como o outro, é só fazer as contas.

Já ouço os teus passos na calçada, despeço-me da gotinha de água com quem estou a conversar, gostei muito deste bocadinho, aparece, quando quiseres, e agora sei que vens de verdade, porque ouves os meus passos, não, porque vejo o teu olhar, o que é a teoria da relatividade, “ quando tens um ferro em brasa na mão, um segundo vai parecer-te uma eternidade, e quando estás ao lado do homem que amas (eu), uma eternidade vai parecer-te um segundo”, tiveste saudades minhas, sim, muitas, como sempre, mas agora venho para ficar.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:10

Atormentado pela insónia da noite, o Mantinhas, saltitava no sorriso de uma linda bela Princesa, e de olhar em olhar, voava em redor do seu castelo, onde se encontrava aprisionada, e só o Mantinhas a fazia feliz. Na alvorada uma gaivota poisava no parapeito do sonho, que todas as noites, invadia o quarto e a linda bela Princesa fixava o olhar num ponto de luz invadido pela saudade, momentaneamente, feliz.

 

Passava horas acordado, passava horas olhando o infinito, e ao longe, quando o amanhecer parecia acordar, respirava fundo, deitava a cabecinha nos braços da linda bela Princesa e adormecia; viajava em direcção às arcadas do paço, escondia-se entre o amontoado de silêncios que por aquela altura deambulavam ao sabor da noite, esquecia-se das horas, dos dias, esquecia-se da madrugada, esquecia-se que seu nome era simplesmente, Mantinhas, e que amanhã novo dia acordará.

 

E quando o sol acordava, lá estava ele nos braços da linda bela Princesa, e em silêncio pintava na tela do seu pensamento o sorriso mais belo, mais lindo do reino, da ilha construída na imaginação do sonho, a minha ilha, só minha, perdida no mar, à espera desse olhar que só ele podia ouvir nas noites de insónia…, quando o meu sonho, só meu, juntamente como os poemas de Pablo Neruda entravam pela claridade do desejo, seguiam na direcção dos teus braços, tu, olhavas para eles como se fossem rosas amarelas acabadas de acordar, e eu, maravilhava-me com o Mantinhas pendurado no teu sorriso, e brincava com o se fosse uma criança, menino de rua.

 

De vez em quando uma nuvem cobria o castelo de sorrisos e de beijos imaginados de véspera, quando ainda o dia não tinha terminado, quando ainda na minha ilha, eu, caminhava à procura de uma tempestade de vento deixada na palma da mão, a minha mão, cremada pela ausência ausente de mim, longe ou perto, nas velas de um veleiro em construção; e eu aproximava-me do veleiro atracado dentro de mim, e ele, fugia, e rebocado pelo vento, acabou por encalhar junto aos alicerces do castelo, foi quando vi o Mantinhas sorrindo à janela, e a seu lado, a linda bela linda Princesa.

 

O Mantinhas é um gatinho, é muito feliz; tem insónias, também as tenho, mas ele, tem o olhar da linda bela Princesa…, e eu, não tenho nada.

 

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:08

A minha vida sem cor

Sonhos a preto e branco

Pregados nos meus braços

Escorrem até às mãos

 

E alicerçam-se nos meus lábios.

No cantinho da boca sílabas desordenadas

Que mal consigo prenunciar

Escrever… numa simples folha de papel amarrotado

 

Como se a minha vida tivesse ficado suspensa

No dia de ontem

Na tarde de hoje…

A minha vida sem cor.

 

A minha vida uma perfeita merda

Numa manhã de inverno

Chuvosa

E nem o mar me quer dar a mão

 

Nem a maré levar-me para longe

- Quero ir para um campo de trigo

E deitar-me no chão lavrado…

E olhar as espigas em crescimento…

 

A minha vida sem cor

Sonhos a preto e branco

Sonhos cansados e que se desfazem

Com a passagem das horas

 

Ardem como cigarros na minha mão

E o fumo da minha vida voa no silêncio

Despede-se do inverno

Quando o meu corpo rejeita caminhar

 

Nas ruas da cidade

Eu farto dos candeeiros da rua

Eu farto da cidade que me ignora

E quando eu morrer por mim irá chorar…

 

- GRANDES FILHOS DA PUTA!

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:44

Escondo-me na solidão

De vales e montanhas

E junto ao rio

Sento-me no xisto abandonado

 

Poiso a mão sobre a água

E faço desenhos

Pinto os teus lábios

Com sabor a amêndoa

 

Escondo-me na solidão

De vales e montanhas

O meu corpo emagrece

Fica minúsculo

 

E na penumbra

Desaparece

Construo relógios nos teus olhos

E nunca consigo saber as horas

 

Perco-me nos minutos passados

E no rio atiro a minha sombra

Finjo-me morto

Afogado.

 

 

Luís Fontinha

30 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:59

29
Abr 11

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, hoje não jantar, três ovos e uma alface, um copo de água e de sobremesa um poema de Cesariny, podia ser pior, ele triste e melancólico à janela a ver passear o mar entre os candeeiros da rua, e do jantar fica a saudade do Mário, o eterno louco, o apaixonado Mário Cesariny.

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Porque poisam as gaivotas na minha mão se eu sem mão, eu apenas entalado entre três ovos e uma alface, coisa pouca, coisa nenhuma, um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros…, três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário pregado na parede ao lado de um crucifixo esquecido pela poeira da maré, quando sobre a janela poisa uma gaivota com cio, e a gaivota em gemidos abafados pela noite,

- porque poisam as gaivotas na minha mão.

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, o relógio hoje encalhado nas oito horas, nem ata nem desata, tipo cordões de sapatos quando enrolados em beijos suspensos nos lábios, e os sapatos em corrida apressada rumo ao areal, o areal longe, o mar aqui, debaixo da minha janela, debaixo das gaivotas, à espera,

- porque poisam as gaivotas na minha mão,

E eu sem mão, ontem comi a minha mão, e ele e ela, ele sem jantar entalado entre três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário coitado, feliz, deitado, adormecido junto ao mar…

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros, e o mar à minha espera para me engolir durante a noite e eu à espera do mar para me encontrar com o Mário Cesariny.

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

Nas sílabas a minha boca suspensa

Na escuridão da tarde

E as palavras em pergaminhos

Das palavras onde vogais teimosas

 

Poisam nos meus olhos

Vagueiam dentro do meu peito

À procura dos livros da noite

Que se passeiam nas ruas da cidade

 

Oiço a tua voz sonâmbula

Na esquina junto ao rio

No sorriso de uma gaivota

Que dorme debaixo de um cartão

 

Pede esmola

E ninguém ninguém olha para ela

Nos passos apressados dos transeuntes

Que regressam do trabalho

 

Está escuro e vai chover

E a gaivota desordenada

Nas palavras que se escondem nas vogais

E brincam nas sílabas

 

Nas sílabas a minha boca suspensa

Na escuridão da tarde

Sei que tenho uma cabeça sobre os ombros

Mas sinto-a tão distante

 

Tão longe de mim

Tinha asas e as minhas asas voaram

No sorriso do vento

Foram com a tempestade

 

E agora também eu peço esmola

De mão dada com a gaivota

Também eu durmo debaixo de um cartão…

E ninguém ninguém olha para nós.

 

 

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:51

Os teus seios suspensos na montanha

Quando olham a ribeira

Entre o xisto pregado ao amanhecer

Em sorrisos feiticeira

 

E dos segundos emerge a manhã

Que se apoderam do teu corpo adormecido

Das tuas mãos o desejo de princesa

Nas tuas mãos o silêncio prometido

 

Os teus seios suspensos na montanha

Que os meus olhos acariciam alegremente

Correm as gaivotas junto ao mar

E junto ao mar dormem como gente…

 

 

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:24

28
Abr 11

Que flor tão bela

Poisada na tarde em despedida

Na mão dela

Nua e despida

 

As horas ensonadas

No relógio embrulhado na escuridão

Rosas encarnadas

Rosas na tua mão.

 

 

Luís Fontinha

28 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:34

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