Chove, estou feliz, hoje, quando chove, sei que vens. E hoje chove, e não me apetece abrir-te a porta, detesto quando chove, não posso brincar no jardim, e eu sei que vens, só vens quando chove…, existe um mundo totalmente novo lá fora, e as partículas de deus existem mesmo, acreditas, eu acredito, e sabes, querida, até acredito que só vens quando chove; hoje chove.
E se tudo isto, o mundo, sim, o mundo, foi uma experiência falhada dos cientistas, e tal como hoje, ao quererem recriar o big bang, a experiência telha falhado e ficado fora de controlo, e cá estamos nós, tu és mesmo louco.
Aos poucos, às vezes, devagar, outras, apressadamente, corto as correntes que me prendem ao teu passado, começo a correr, não olho na tua direcção, e escondo-me quando passo por ti, e agora, que começo a ser livre, posso voar livremente sem as tuas amarras, sei que ao fundo da esquina, entre a saudade e o sonho, a tua sombra segue-me, mas eu finto-a, sou mais rápido, e ela, não consegue apanhar-me.
Chove, e enquanto espero por ti, caminho na rua, converso com as gotinhas de água que caem das nuvens, são tão feiinhas, tão tristes, as nuvens, tudo, e uma gotinha disse-me que amanhã não vai chover, tu não virás, eu não vou para a rua conversar com as finíssimas gotinhas de água, sabes quantos quilómetros faz um gotinha de água até chegar a ti, e repentinamente conversar contigo, ouvir-te, saber escutar o que dizes, e as partículas de deus, que tem, o que são, são as partículas de deus, um mundo fascinante por descobrir, como é possível dois protões colidirem à velocidade da luz, é, será a luz o limite, da velocidade queres tu dizer, sim, da velocidade, e se é possível viajar a velocidades superiores à da luz, cerca de trezentos mil quilómetros por segundo, é tanto…, em teoria não é possível, e a massa seria infinita, e a energia, que teem, a energia libertada seria muito grande, imagina um objecto a trezentos mil quilómetros por segundo, e como a energia é igual à massa vezes a velocidade da luz ao quadrado, já deves imaginar, como o outro, é só fazer as contas.
Já ouço os teus passos na calçada, despeço-me da gotinha de água com quem estou a conversar, gostei muito deste bocadinho, aparece, quando quiseres, e agora sei que vens de verdade, porque ouves os meus passos, não, porque vejo o teu olhar, o que é a teoria da relatividade, “ quando tens um ferro em brasa na mão, um segundo vai parecer-te uma eternidade, e quando estás ao lado do homem que amas (eu), uma eternidade vai parecer-te um segundo”, tiveste saudades minhas, sim, muitas, como sempre, mas agora venho para ficar.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
Alijó