Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Abr 11

Hoje não escrevi nada de jeito. Nada que possa prestar, e não preocupado, tudo o que escrevo não presta mas é a única forma de me manter vivo. Hoje abri a janela que tenho na minha cabeça, e lá fora, no quintal da minha solidão, uma menina sentada num baloiço empurrada pelo vento, e hoje, hoje não escrevi nada de jeito.

E hoje dou-me conta que não tenho jeito para nada, nem para fazer sombra quando emerge a noite no néon da rua, e hoje nada, nada de jeito saiu de mim, e a menina parece um pêndulo a descrever trajectórias nos sorrisos, e o baloiço engasgado no fim de tarde, e a tarde aos soluços depois do lanche, pão com manteiga e leite, e a tarde perdida nas margens das minhas mãos, e eu hoje não escrevi nada, e hoje eu à procura do sol, e hoje não sol, nem tão pouco escrevi… hoje nada de jeito. Eu sem jeito…

Hoje não escrevi nada de jeito. Nada que possa prestar, e não preocupado, tudo o que escrevo não presta mas é a única forma de me manter vivo. Hoje abri a janela que tenho na minha cabeça, e da minha cabeça hoje não saiu nada, debruço-me no peitoril, aponto os faróis do meu olhar para o oceano, elevo a voz na maré, pego numa das mãos, e a tarde perdida nas margens das minhas mãos, elevo em mim o silêncio, alguém me acena do outro lado do mar, quando os meus faróis começam a deslumbrar a curva da terra, e hoje não escrevi nada de jeito, pudera…, nunca escrevi nada de jeito; e às vezes questiono-me, ele questiona-se,

- tenho jeito para quê?

Tenho jeito para quê, perguntam vocês?

- e tu tens jeito para quê?

Jeito para nada dizem eles. E hoje não escrevi nada, e hoje talvez a única coisa válida que fiz…

- diz… diz lá…

Hoje talvez a única coisa válida que fiz fosse sentar-me na sanita, ouvir the Doors e fumar três cigarros seguidos,

- isso tudo?

Eles acham pouco…

Eu, eu resumo o meu dia a um simples cagalhão a boiar na sanita lá de casa…

- uma menina sentada num baloiço empurrada pelo vento, e o vento a enrolar-se nas suas pernas como se ela fosse uma simples roseira que brinca junto à praia, e na praia, na praia ele encostado ao rodapé da sala de estar, um livro na mão, e na cabeça uma janela aberta para o sol…

 

 

 

(texto de ficção)

FLRF

2 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:35

Embala-me o vento que vem de ti

A tempestade

E por um momento

Corro sobre as árvores prisioneiras

Que a madrugada me obriga a acordar

E na manhã vão despertar

 

O silêncio da lua

Visto o casaco da noite perpétua

E pulo o muro da solidão

Do outro lado do muro

 

A prisão

A paixão

O abismo

As rochas cortadas em pedacinhos

A rua

Que os meus braços beijam a neblina

 

E me embala o vento que vem de ti

A tempestade

O mar tão distante…

Tão ausente

 

Tão longe de ti eu

Sonâmbulo das lágrimas

Marinheiro que acaba de perder

O seu porto de abrigo

 

O meu veleiro encalhado

E no meu corpo as velas enroladas

No meu pescoço as cordas

Que me conduzirão até ao fundo dos teus olhos

 

É escuro…

A prisão

A paixão

O abismo

 

A tua mão que deixou de percorrer o meu rosto

Na tua mão que perdi os meus lábios

Oh madrugada em sofrimento

E o meu corpo em cinza

Eu sem esqueleto

Que dormia no teu sorriso

E me alimentava do teu olhar

Nas noites de insónia…

 

Embala-me o vento que vem de ti

A tempestade

Tenho frio

Na saudade

 

Estou só

E os meus olhos completamente cegos

Deixei de ver

Não oiço nada… nada

Ninguém

Apenas a tempestade

 

Que me embala o vento que vem de ti.

 

 

 

FLRF

2 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:35

A minha vida dois caris que no infinito se encontram, e tal como duas rectas paralelas, corro apressadamente rumo ao infinito, ao encontro do fim. E quando chegar lá, o que faço?

Encosto-me à sombra de um plátano?

Enrosco-me nas asas de uma gaivota’

Ou simplesmente espero que anoiteça?

A minha vida dois caris que no infinito se encontram, e o mais provável é sentar-me numa rocha, olhar o rio indiferente à minha presença, fumar através de um dos meus cachimbos… e esperar; esperar que o vento leve as minhas cinzas, as cinzas do meu tabaco, as cinzas dos meus sonhos, e as coloque no pôr-do-sol.

 

 

FLRF

2 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:50

Há uma terra que me come

Há uma mulher à minha espera

Há uma terra que me deseja

Há uma mulher na minha terra

 

Há uma mulher que precisa da minha mão

Na minha terra

Há uma terra dentro de mim

Numa mulher com fome

 

Numa terra com dor

Há uma mulher em cada flor

Uma terra em cada jardim…

Há uma mulher que precisa de amor

 

E uma terra que precisa de mim.

 

 

FLRF

2 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:21

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