Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Abr 11

As minhas mãos, um líquido esquisito,

Que do rio, aos poucos, acordam,

As minhas mãos, enxovalhadas de sangue,

A saliva do marinheiro,

 

O cansaço de deus.

As minhas mãos, o cérebro do nada,

Plumas nos meus ombros nas noites de loucura,

Ele, eu, nós adormecidos num só corpo

 

Filhos do rio

Enteados do silêncio,

Amantes do mesmo corpo desvairado,

Louco, cheiramos a sexo,

 

Nos nossos corpos o líquido das minhas mãos,

O plasma que dentro das veias se enfurece

Com o pôr-do-sol…

A janela que depois de aberta… se cansa

 

E os nossos corpos seminus deitados no cansaço

Coberto pelo líquido das minhas mãos,

As minhas mãos, um líquido esquisito,

Que do rio, aos poucos, acordam,

 

Que no rio, aos poucos, se afundam…

 

 

FLRF

3 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:24

Eu perdido na noite

Secção de perdidos e achados

E depois de verificar toda a lista

Da lista não o meu nome

Não estou lá

E pergunto-me

Vocês perguntam-me

Onde estarás?

 

Procuro debaixo de uma pedra

Não o meu corpo

Procuro na sombra de uma árvore…

Não, não estou debaixo da árvore

 

Eu pergunto-me

Vocês perguntam-me

 

Onde andarás?

 

Eu perdido na noite

Sem saber onde deixei o meu esqueleto

Preciso dos meus ossos

E apenas as minha mãos

 

Nas faces rosadas do oceano

 

Procuro debaixo de uma pedra

Não o meu corpo

Procuro na sombra de uma árvore…

Não, não estou debaixo da árvore

 

E os meus duzentos e seis ossos

E porquê 206?

Cem não chegavam?

Os meus duzentos e seis ossos

 

Num quarto de pensão

Segundo andar

Frestas nas paredes

Sombras no tecto

 

Silêncios numa cama com tosse

Eu à procura dos ossos

E os meus ossos escondidos no soalho

Junto ao mar

 

Eu perdido na noite

Secção de perdidos e achados

E depois de verificar toda a lista

Da lista não o meu nome

Não estou lá

E pergunto-me

Vocês perguntam-me

Onde estarás?

 

Num quarto de pensão

Segundo andar

Frestas nas paredes

Sombras no tecto

 

E putas, muitas putas na rua

Oiço-as mesmo sem abrir a janela

Guerreiam por um pedacinho dos meus ossos

Junto ao mar num quarto de pensão.

 

 

 

FLRF

3 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:57

Encosto-me ao soalho da praia

E junto ao rodapé

Escondo a minha sombra

Nas minhas mãos

E no meu rosto desenho uma gaivota

Órfã da madrugada

 

Caminho no corredor da maré

E as portas do pôr-do-sol

Encerradas em mim

Onde fresta de luz

 

Saem do meu corpo

E como pregos

Espetam-se no soalho da praia  

Abro a janela do amanhecer

 

E sinto que a lua hoje não veio

Hoje escondida no telhado das árvores

Que assombram o meu jardim

Junto ao rodapé…

 

A minha sombra escondida

E o mar em assobios constantes

Encosto-me ao soalho da praia

E junto ao rodapé

 

Uma voz a chamar-me… - Pai!

 

 

 

FLRF

3 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:01

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