A luz acende-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, eu uma simples lâmpada e meia dúzia de fios descarnados, a luz acende-se de mim, e de mim poisa nas frestas junto ao rodapé, uma canoa à deriva nos meus braços mergulhados no rio, e de mim a luz que aos poucos desiste da claridade, a esmorecer, a morrer…
A canoa em semicírculos e os meus braços iluminados, a canoa à rasca, à rasca de verdade, não a geração, a canoa numa perpétua agonia, com tosse, com frio, eu a luz que ilumina o rio quando nos meus braços as algas brincam no quintal às escondidas, não têm pressa, não têm medo, eu a luz com medo do caíque e os ramos à conversa com as algas, e as algas a gritarem-me,
- para quê tantos candeeiros?
E tudo à rasca. O país à rasca, nós à rasca, mas de quem tenho mais pena não é da canoa,
- coitada…
De quem tenho mais pena é dos bancos que estão à rasca,
- quinze mil milhões?
Coitados, coitados todos à rasca,
- para quê tantos candeeiros?
A luz acende-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, eu uma simples lâmpada e meia dúzia de fios descarnados, a luz acende-se de mim, e de mim poisa nas frestas junto ao rodapé,
- para quê tantos milhões?
Faço uma pausa na iluminação, cruzo os braços, a lâmpada apaga-se, eu não iluminação, eu à rasca com medo de parir a lâmpada, eu com medo de partir os candeeiros,
- para quê tantos candeeiros?
A luz apaga-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, e no rio todos à rasca, quinze mil milhões à espera de serem resgatados…
- para quê tantos candeeiros?
Como te chamas?
- Rua do Sol…
Pum pum pum…
- Agora chamas-te rua dos candeeiros.
(texto de ficção)
FLRF
5 de Abril de 2011
Alijó