Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Abr 11

A luz acende-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, eu uma simples lâmpada e meia dúzia de fios descarnados, a luz acende-se de mim, e de mim poisa nas frestas junto ao rodapé, uma canoa à deriva nos meus braços mergulhados no rio, e de mim a luz que aos poucos desiste da claridade, a esmorecer, a morrer…

A canoa em semicírculos e os meus braços iluminados, a canoa à rasca, à rasca de verdade, não a geração, a canoa numa perpétua agonia, com tosse, com frio, eu a luz que ilumina o rio quando nos meus braços as algas brincam no quintal às escondidas, não têm pressa, não têm medo, eu a luz com medo do caíque e os ramos à conversa com as algas, e as algas a gritarem-me,

- para quê tantos candeeiros?

E tudo à rasca. O país à rasca, nós à rasca, mas de quem tenho mais pena não é da canoa,

- coitada…

De quem tenho mais pena é dos bancos que estão à rasca,

- quinze mil milhões?

Coitados, coitados todos à rasca,

- para quê tantos candeeiros?

A luz acende-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, eu uma simples lâmpada e meia dúzia de fios descarnados, a luz acende-se de mim, e de mim poisa nas frestas junto ao rodapé,

- para quê tantos milhões?

Faço uma pausa na iluminação, cruzo os braços, a lâmpada apaga-se, eu não iluminação, eu à rasca com medo de parir a lâmpada, eu com medo de partir os candeeiros,

- para quê tantos candeeiros?

A luz apaga-se do meu corpo, eu um candeeiro de parede na sala virada para o rio, e no rio todos à rasca, quinze mil milhões à espera de serem resgatados…

- para quê tantos candeeiros?

Como te chamas?

- Rua do Sol…

Pum pum pum…

- Agora chamas-te rua dos candeeiros.

 

 

(texto de ficção)

FLRF

5 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

Não tenho árvores no meu quintal

Nem flores no meu jardim

Não tenho luz no meu corpo

Tão pouco chega até mim o luar

 

Não tenho livros para ler

E se os tivesse

Não os lia…

Não me apetece

Escrever

Não me apetece ver o mar

 

Sem árvores no meu quintal

E flores no meu jardim

Vou enfiar-me dentro dos lençóis

Cobrir-me com o jornal…

 

Apetece-me dar pontapés no vento

E cagar…

No quintal

No jardim

Nas árvores

E nas flores…

 

E virar o rabinho para o luar.

 

CUIDADO: o FMI está a chegar…

Cuidado com o rabinho virado para o luar.

 

 

 

FLRF

5 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:29

Os teus bracinhos

Deitados no meu peito

E nas minhas mãos de primavera

Uma gaivota sorri nos teus olhos de madrugada

 

Lá fora, na rua em movimento, um cisne

Esconde-se nas pedrinhas da calçada

E movimenta-se lentamente junto ao mar

Onde os teus bracinhos e o meu peito poisam vagarosamente

 

Sem percebermos a chegada da noite

Sem compreendermos o porquê da alvorada…

Os teus bracinhos

Deitados no meu peito

Em carícias de fim de tarde

Os carris lotados

E nas carruagens sombras em desespero

Indiferentes aos teus bracinhos e ao meu peito…

 

Enlatados ma maré

 

Os teus bracinhos

Deitados no meu peito

E nas minhas mãos de primavera

Uma gaivota sorri nos teus olhos de madrugada

 

E a maré cresce, cresce até ao infinito…

Os teus bracinhos

O meu peito

Órfãos das sombras

Numa carruagem apressada

Nos carris do desassossego…

 

 

FLRF

5 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:32

O vento levou os teus cabelos

Num fim de tarde na cidade

(Não te preocupes meu amor)

O vento os vai trazer

Numa manhã junto ao mar

Quando estiveres a brincar

Com o sorriso de uma gaivota

E os teus cabelos voltarão a brilhar

E a iluminar

O pôr-do-sol…

 

Também as árvores no Outono

Perdem as suas folhas

Também as árvores na primavera

(E os teus cabelos voltarão a brilhar)

Como uma rosa à tua espera…

No jardim junto ao mar

 

Também as árvores são belas

Quando perdem os seus cabelos…

E a tua beleza meu amor

Não está nas tuas folhas

Não habita no teu tronco plantado junto ao mar…

A tua beleza és tu

É a tua força

E a tua simplicidade de me amar

E um dia quando acordares

As tuas folhas novamente a brilhar

E a iluminar

O pôr-do-sol…

 

 

 

FLRF

5 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:28

Abril 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO