Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

07
Abr 11

O peso do meu corpo evapora-se por entre o fumo do meu cigarro, sinto-me aos poucos levitar por entre as águas de um velho com lágrimas, e no seu rosto poisa a minha mão, peço-lhe ajuda, e na calçada a minha sombra percorrendo as tasquinhas pedindo esmola, eu descalço, eu sem roupa vagueando junto ao Tejo, chamam-me do rio que desaparece ao fundo da calçada, na esquina o meu corpo transformado em vapor, suores numa madrugada de Agosto, o frio entra-me nos ossos e adormece os meus olhos, e perco a noção de beleza.

Odeio as flores.

Odeio o mar.

Odeio o rio que aos poucos me viu nascer e ainda hoje espera por mim junto à calçada.

Odeio as gaivotas e os livros e odeio a poesia e a literatura.

O peso do meu corpo evapora-se por entre o fumo do meu cigarro, sinto-me aos poucos levitar na mão de um mendigo, percorro as tasquinhas pedindo esmola, e da ajuda apenas me vem à lembrança os paralelos da calçada e um candeeiro na esquina junto ao museu dos coches.

Odeio as flores.

 

 

(texto de ficção)

FLRF

7 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:14

Abate-se sobre mim o pesadelo

Foge de mim a luz

Vem até mim a escuridão

Emerge em mim o desejo

 

De adormecer e não acordar

Ou não adormecer

E não acordar

Ou acordar numa outra dimensão

 

Dentro de um buraco negro

No infinito

Noutra galáxia

Com outro tempo

 

Sem dias

Sem semanas ou meses

Outro tempo

Sem relógios parvos adormecidos numa parede

 

E de noite

Abrem as goelas

Gritam-me as horas…

Parvos

 

Abate-se sobre mim o pesadelo

Foge de mim a luz

Vem até mim a escuridão

Emerge em mim o desejo

 

E eu sentado à beira mar

Eu à espera que me leve a maré

Sem tempo

Sem relógios na parede do meu quarto…

 

 

FLRF

7 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:35

Pertinho de ti

Pertinho do céu

Ai tarde que vi partir

Sem uma lágrima

Sem se despedir

Pertinho de ti

Pertinho do céu

Sem uma lágrima

Para me fazer sorrir

Sem se despedir

Pertinho de ti

Pertinho do céu

Ao teu lado

Simplesmente encantado

Simplesmente enamorado

Pertinho de ti

Pertinho do céu

E os teus olhos são luzinhas que me iluminam

Luzinhas, luzinhas… de encantar

Um semi-circulo mecânico no teu peito

Sim um pêndulo gigante

E o nosso tempo está a esgotar-se ausente

Sem jeito

Sem espaço-tempo

Sem deixar de sonhar

Sonhar vento.

 

Saltar de arbusto em arbusto

Uma vezes de pé

Outras sentado

E nenhumas deitado

Saltar de silêncio em silêncio parece justo

Parece defeito

Feitiço

Poeta desencontrado.

 

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:08

Vinte e sete dias de inferno

Dois dias de alegria apressada

E um dia a descansar

Vinte e sete dias sem nada

Vinte e sete dias de inverno

Nesta vida desgraçada

 

Vinte e sete dias sem fumar

Vinte e sete dias deitado na calçada

Vinte e sete dias de inferno

E três noites de madrugada

 

Vinte e sete dias de inferno

Dois dias de alegria apressada

E um dia a descansar

 

Vinte e sete dias no interno

Dos três dias com mesada…

Nas três noites com luar.

 

 

FLRF

7 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:11

Introduzo o ficheiro de pontos

No civil 3D e crio a superfície do teu lindo rosto,

Traço uma recta

Desde os teus olhos até à tua boca,

E faço o perfil longitudinal do teu olhar

Que no meu pensamento

Saltita de quando em quando,

Mais vezes do que eu desejava,

Depois,

Faço o corredor do teu cabelo

Sem cor,

(Não sei qual a cor do teu cabelo)

(Qual será a cor dos teus olhos?)

E seguidamente

Sem pressa aparente,

Faço o perfil transversal do teu sorriso,

É difícil,

É complicado,

Porque a tua cabecinha

Que às vezes se esquece de me olhar,

Está rodada a noventa graus,

- E há quem diga que um simples ângulo recto

Ferve a cem graus,

Estupidez…

Parvoíce…

Depois…

Depois… fascino-me com o trabalho realizado,

Escuto o infinito onde te moves,

Escondo-me no fumo dos teus cigarros,

E dos meus cigarros,

Adormeço,

E talvez venha a sonhar contigo.

 

 

 

FLRF

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:38

Pego nesta folha de papel

Amarrotada pelo tempo passado

E embrulho os meus fantasmas,

 

E em seguida,

Enterro-os nas profundezas da minha mão.

 

Fumo velozmente

Para me manter acordado,

 

E não ter pena, dó…

 

E eis que me vejo,

Possivelmente, não me vejo,

Despedaçado

Entre escombros e alicerces

Que já não é,

Mas existia a torre de Babel…

 

Estou só!

 

E no silêncio onde adormece

A madrugada,

Bem longe dos meus sonhos, pesadelos,

Uma âncora me arrasta,

Sem sossego,

Para o infinito…

 

E eis que vejo,

Sim… agora consigo ver,

Os meus fantasmas

Enterrados para todo o sempre.

 

 

FLRF

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:27

Aos meus amigos

Aos meus inimigos

Ao sol e à lua

À puta que os pariu.

 

Muitos pensarão

Que enlouqueci. Não, não estou louco!

 

Prometi um poema ao luar

Mas não o escrevi.

E com medo do teu olhar

As palavras esqueci,

E tudo o que tenho, não é nada, é pouco.

É o cansaço da minha Nação

 

Não sei o que escrever…

O que posso eu dizer do luar?

Nada. Tudo. Que após o luar

Vem a maldita madrugada,

A arrogância do amanhecer,

O dia a acordar.

De Inverno, a bendita geada.

E de Verão…, o Sol a nascer.

 

Entre o teu olhar

E o luar,

(Entre o Sol e a lua)

A minha sombra dissipa-se e esconde-se velozmente

Como se eu fosse um átomo de carbono, hidrogénio…

O teu olhar, mente.

O luar, um génio.

 

E o meu corpo parece

Um cadáver em decomposição,

Sinto-me uma liga de aço,

Tungsténio.

Tenho medo do teu juízo, da tua razão,

(até de um abraço teu)

Sim, um abraço,

Aquele, apertadinho, que aquece,

E faz do luar um génio…

 

 

 

FLRF

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:52

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