Os barcos enrolam-se no meu corpo
Sinto o peso da água
No fundo do oceano
Os barcos agarram-se às minhas mãos
E puxam-me
E não me deixam respirar
O meu corpo aos poucos
Não corpo
Um barco afundado
Nas sombras da noite
Um barco eu
Sem leme
Um barco eu
Sem velas
Preciso de gritar
Deixei de ter garganta
Nem guelras…
E na boca circulam-me safiras
Coxas de mulheres com cio…
À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré
Há peixe frito
Com feijão-frade
Pataniscas…
E outra merda qualquer
Não me apetece comer
Os barcos enrolam-se no meu corpo
Sinto o peso da água
Sinto a corda que me esgana
E me Sufoca na multidão
Atiram-me com pedras
Levo com os vapores de nafta
Nos olhos que aos poucos se enterram junto ao cais
O meu corpo aos poucos
Não corpo
Um barco afundado
Nas sombras da noite
E a corda pronta para me suicidar
À minha espera pendurada no silêncio
Os barcos enrolam-se no meu corpo
Sinto o peso da água
No fundo do oceano
À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré.
FLRF
8 de Abril de 2011
Alijó