Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Abr 11

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

No fundo do oceano

Os barcos agarram-se às minhas mãos

E puxam-me

E não me deixam respirar

 

O meu corpo aos poucos

Não corpo

Um barco afundado

Nas sombras da noite

 

Um barco eu

Sem leme

Um barco eu

Sem velas

 

Preciso de gritar

Deixei de ter garganta

Nem guelras…

E na boca circulam-me safiras

Coxas de mulheres com cio…

À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré

 

Há peixe frito

Com feijão-frade

Pataniscas…

E outra merda qualquer

 

Não me apetece comer

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

Sinto a corda que me esgana

 

E me Sufoca na multidão

Atiram-me com pedras

Levo com os vapores de nafta

Nos olhos que aos poucos se enterram junto ao cais

 

O meu corpo aos poucos

Não corpo

Um barco afundado

Nas sombras da noite

 

E a corda pronta para me suicidar

À minha espera pendurada no silêncio

Os barcos enrolam-se no meu corpo

Sinto o peso da água

No fundo do oceano

À espera do desejo de um crucifixo pendurado na maré.

 

 

FLRF

8 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

O cadáver de um poema

Exposto sobre a mesa

Nas paredes crucifixos arrogantes

Crucifixos com fome

 

Das palavras em decomposição

Apodrecidas sobre uma folha de papel

O cadáver

Aos poucos em pó

 

E do poema apenas a luz do dia

Repartida pelas clareiras da noite

O cadáver de um poema

Que se esconde nas frestas da solidão

 

Exposto sobre a mesa

Misturado com os óculos embaciados

O poema chora

E das lágrimas soltam-se palavras no fim da tarde

 

O poema sofre

O poema morre

O cadáver de um poema

Poisa na minha mão

 

E nas minhas costas

As palavras agarram-se-me nos ossos

Comem-nos ao pequeno-almoço

Fico cadáver como o poema…

 

 

FLRF

8 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:01

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