Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

12
Abr 11

Debaixo do fogo cruzado

Em que se tornou o teu olhar,

Caminho em direcção ao mar

Neste barquinho de nada, encalhado

 

Nas tuas lágrimas de amanhecer.

E de velas ao alto com vento sem vento,

Tu, a teoria do sofrimento,

Sim tu, a menina mimada

Que se esconde ao anoitecer

Com sorriso de apaixonada.

 

Debaixo do fogo cruzado

Em que se tornou o teu olhar,

 

Ofuscante como a escuridão

Das tuas palavras, praia mar,

Esconde-se o meu coração apaixonado

Na tua mão,

Silêncio de mar.

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:41

Assassinam-me na esplanada de uma pastelaria

Cortam a minha sombra em pedacinhos que minguam

Na cadeira onde me sento

Sinto-me em retalhos espalhados pelo silêncio

 

E à minha volta uma criança revoltada

Chora e continuam a assassinar a minha sombra

Indiferentes ao cansaço de um mendigo

Vejo-me colado nas paredes da gomes (Pastelaria)

 

Magro

Um palito plantado na encruzilhada do nada

Tenho medo e oiço o sino que na sé se enrola em minutos

De um relógio esquecido na imtempérie…

 

Assassinam-me na esplanada de uma pastelaria

Cortam a minha sombra em pedacinhos que minguam

Na cadeira onde me sento

Sinto-me em retalhos espalhados pelo silêncio

 

E no chão as minhas mãos temerosas

Procuram os teus olhos

Precisam dos teus lábios

E no chão vejo-me a ser sepultado pelo destino.

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:49

O menino dá, mamã. O menino dá papa ao bicho, e o menino movido de uma caneta ia atafulhando o bicho de bolachas, o bicho a recusar, e o menino a insistir, e os dentes do bicho em marfim, coitados, a fugirem-lhe da boca semiaberta, e as bolachas em fila de espera para entrarem, e a entrada cada vez mais cerrada, o bicho recusa-se, o menino a insistir, eu a esforçar-me, o menino de caneta apontada, o bicho, o bicho quase adormecido na madeira em pau-preto, três dentes partidos, a cauda lascada, e um crocodilo em pau-preto defeituoso, uma viagem de regresso, Luanda, Lisboa, Trás-os-Montes, e agora descansa da velhice, o menino, esse, escondeu-se na sombra das Mangueiras, eu, procuro no silêncio dos mabecos, o menino, e os dentes de marfim, algures perdidos no cacimbo…

 

 

(texto de ficção

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:17

Talvez eu pareça um monstro marinho

Prisioneiro da luz diáfana do amanhecer,

Talvez pensem que sou um coitadinho,

Coitadinho à espera de morrer…

 

Talvez eu seja uma rua da cidade

Com muitas janelas,

Talvez eu pareça a saudade

Deitado sobre rosas belas,

Amarelas,

Ou… vermelhas, ou sem cor,

Talvez,

Talvez eu me tenha fartado do amor,

Ou talvez me tenha fartado de sonhar,

E ouvir baixinho,

Devagarinho,

É preciso acreditar!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:01

Da luz reflectida nele, ela sonhava abraça-lo, brincar com as suas mãos, levá-lo talvez a passear onde ela se escondia à tardinha, depois de o silêncio adormecer na tarde, depois de ela cansada, quase noite, ela a despedir-se do dia, ela a desejar o luar. E ele, desejoso de alcançar o mar, e ao fundo, a foz, o fim. Um petroleiro indiferente, e de soslaio, refugia-se na âncora que o prende ao fundo, aprisiona-o, e de olhos abertos, uma mão acena para ele.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:57

E amanhã é muito tempo, e o vento talvez já não esteja entre mim e ti, entre nós, e talvez só o vento consiga aquilo que tu e eu não conseguimos, andar, caminhar junto ao mar, mar da tranquilidade, não, isso é na lua, e amanhã já não há vento, e se eu atirar os lençóis da tua cama pela janela, não voam, apenas um olhar, apenas um, eles experimentam a lei da gravidade, caem, esborracham-se na calçada junto ao mar, vejo o areal, tu brincas lá, brincas ao faz de conta, e eu faço de conta que amanhã não estou cá, não sei meu querido, talvez amanhã consiga dizer-te alguma coisa, talvez amanha…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

Junto à ribeira

Deixo a minha mão adormecida

E nos meus olhos

Vive o monstro da noite

 

Sento-me no xisto esquecido pela tempestade

E as lágrimas invadem o meu rosto

Junto à ribeira

A minha mão que se afoga na água da madrugada

 

E o meu corpo despede-se de mim

Separa-se em pedacinhos

Raios de sol

Que pela manhã entram no meu quarto.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:39

Enquanto o teu sorriso

Se ausenta de mim

Escrevo na claridade da ribeira

Entre a montanha dos teus seios

 

E as conchas das tuas coxas

Entaladas nos socalcos

O xisto vem a mim meu corpo em voos elípticos

Vagueando tenazmente na madrugada

 

E deixo para outro dia o teu sorriso

No luar que acorda dele em suspenso…

Porque na vida sem alegria

O meu corpo vagabundo

 

Se afunda na espera do teu sorriso

Se ausenta de mim

Procura na minha sombra

As sombras dos teus lábios

 

Os feitiços da primavera

Gaivotas em suspenso

Andorinhas empalhadas na maré

Esperam o teu sorriso ausente…

 

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:20

Tudo tão triste à minha volta

Tristes as flores da primavera

Tudo tão triste na minha revolta

No jardim à minha espera…

 

Tudo tão triste na minha mão

O papel onde escrevo

A solidão

O medo

 

Tudo tão triste dentro de mim

Tristes os meus ossos em dor

À minha espera no jardim

A tristeza de uma flor.

 

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:55

O boneco do chapéu de palha em braços abertos no centro do terreno, olha-me e quer-me comer, nos seus braços os pássaros não medo, os pássaros pendurados de cabeça para baixo, olha-me e quer-me comer, eu uma sandes de queijo embrulhada no vento, eu um sabor amargo na boca do boneco do chapéu de palha, eu não medo, eu uma sandes de queijo desejada por um espantalho preso ao pavimento em alicerces de madeira.  

 

O boneco do chapéu de palha em braços abertos no centro do terreno, olha-me e quer-me comer, e eu corro pelo terreno até ao riacho, sento-me, desembrulho-me e fico à espera que o espantalho me venha saciar, eu uma sandes de queijo rodeada de pássaros…

 

 

(texto ficção)

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:10

Sacia a minha fome com os teus lábios encharcados de fim de tarde, abre a porta do meu corpo, esta, sim essa mesmo, abre-a e entra, e depois, depois deita-te nos meus braços debaixo do canavial, os pássaros devoram-te e dos pássaros lixo atirado pela janela, e ontem eu nos teus lábios e ontem eu com fome dos teus lábios, sacia o meu corpo com os teus olhos, sabes, diz, aqueles que deixaste junto ao muro quando o rafeiro se atirou aos teus tornozelos e ão, ão ão, e maldito cão que só pensa em roer, e maldita fome a tua que só pensas nos meus lábios, ão ão ão…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:09

O teu olhar um ferro

Apontado ao coração

Dói-me a ferida imaginária

Da tua mão

 

Sinto no rosto o sangue que me beija

Em lágrimas coaguladas de silêncios

O teu olhar um ferro em brasa

Da cor do sol

 

Perdido na noite

À minha procura numa rua sem saída

Um cruzamento despede-se de mim

E leva-me as lágrimas de sangue

 

E deixa-me o ferro espetado no coração

Dói-me a ferida imaginária

Da tua mão

Da cor do sol.

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:08

A tristeza alimenta-se da minha dor

Que nos meus braços emerge

Que na manhã me acorda

Quando nas horas um engasgar

 

De segundos e minutos embatem contra as paredes do meu peito

Doem-me as mãos de chapinhar na água

E não consigo abrir os olhos recheados de lágrimas

Que a tristeza se alimenta da minha dor

 

Que nos meus braços emerge

E na manhã me acorda

Quando nas horas um engasgar

De relógios pendurados nas minhas costas

 

Me atiram para a água

E afogo-me na ribeira…

Esqueço-me de viver

A tristeza que se alimenta da minha dor.

 

 

FLRF

12 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:06

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