Embrulho-me quando o vento me toca na planície, malmequeres suspensos na claridade da tarde à minha espera junto ao silêncio e o meu sorriso refém da tempestade, do chão levantam-se sofrimentos e adensa-se nas minhas mãos a chuva acabada de cair, o capim olha-me na sombra de uma mangueira engasgada na tarde, e eu criança de pancadas em punho num velho triciclo…, o triciclo em lágrimas, o triciclo com dor, e eu criança dominado pelo cheiro da terra queimada, embrulho-me quando o vento me toca na planície, o triciclo ficou lá, parte de mim ficou lá, os malmequeres ficaram lá. E de mim apenas vieram duzentos e seis ossos e trinta e dois dentes.
Embrulho-me quando o vento me toca na planície, malmequeres suspensos no sorriso dos machimbombos apressados pela cidade, o meu avô passeia-se nas ruas com um pela mão, leva-o pela trela, e quando regressa a casa eu criança em sombras à espera dele no portão, as mangueiras do quintal já dormem, os papagaios de papel brincam com o chapelhudo e eu começo a ter sono, esfrego os olhinhos e dou-lhe um beijo, a barba durante o dia em crescimento, pica-me, o meu avô cansado de andar com um machimbombo pela cidade, pega-me na mão e leva-me para casa…
(texto de ficção)
FLRF
14 de Abril de 2011
Alijó