Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Abr 11

O crucifixo pendurado na parede do quarto olha-me como se eu fosse um criminoso, malfeitor, impostor, olha-me como se eu fosse uma sombra pendurada na ombreira da porta virada para o mar, o meu corpo sobre a cama com suspensão das funções vitais, dois quadros olham-me e trocem o nariz à minha cara de parvo, à minha cara de incredulidade porque da janela via o mar, e das duas uma, ou a janela estava ao lado da porta, ou,

- ou eu estou a ficar louco

Ou o mar dá a volta à minha casa, a minha casa dentro do mar, e por essa ordem eu conseguiria ver o mar da janela e ver o mar da porta, e a janela e a aporta, em sítios distintos, opostas uma à outra, e

- O crucifixo pendurado na parede do quarto olha-me

E eu detesto, não gosto, e eu fico muito chateado com o olhar de um crucifixo que sempre me lembro de ver naquela posição e que desde miúdo está ali pendurado como se fosse um retrato de um falecido, quando o mar me rodeia eu fico em silêncio, chamo as gaivotas à minha mão e na minha mão poisam cansaços da noite, e da noite

- dois quadros olham-me e trocem o nariz à minha cara de parvo, dois quadros e um crucifixo, e finalmente percebo que não estou só dentro da casa rodeada pelo mar, eu na companhia de três fantasmas pendurados na parede,

Eu chamo as gaivotas à minha mão, e na minha mão começa a acordar o sono, viro-me para o lado, lentamente fecho os olhos e espero, espero que o sono tome conta de mim.

 

 

(texto de ficção)

FLRF

21 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

Entranhas-te neste corpo desossado

Vento que sopra do mar

Entranhas-te em mim

Lágrimas de silêncio amarrotado

Neste corpo em movimento

Neste esqueleto cansado…

À espera de zarpar

Nas sombras do teu corpo eu me deitar

 

Eu adormecer sem sofrimento

Entranhas-te neste corpo desossado

Pendurado numa oliveira

Junto ao mar deitado

 

Junto à ribeira

Eu com uma rosa brincar

Neste corpo desossado

Neste corpo na fogueira.

 

 

FLRF

21 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:00

Em mim as tuas mãos de seda

Poisam no meu rosto em flor

As tuas mãos de abelha

No meu corpo em dor

 

Do meu corpo em silêncio

Despedido na madrugada

Em mim as tuas mãos de seda

Das tuas mãos de nada.

 

 

FLRF

21 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:57

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