Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Abr 11

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, hoje não jantar, três ovos e uma alface, um copo de água e de sobremesa um poema de Cesariny, podia ser pior, ele triste e melancólico à janela a ver passear o mar entre os candeeiros da rua, e do jantar fica a saudade do Mário, o eterno louco, o apaixonado Mário Cesariny.

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Porque poisam as gaivotas na minha mão se eu sem mão, eu apenas entalado entre três ovos e uma alface, coisa pouca, coisa nenhuma, um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros…, três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário pregado na parede ao lado de um crucifixo esquecido pela poeira da maré, quando sobre a janela poisa uma gaivota com cio, e a gaivota em gemidos abafados pela noite,

- porque poisam as gaivotas na minha mão.

Ele triste e melancólico, ele e ela, ele deprimido quando o fim de tarde vem buscá-lo para jantar e jantar nenhum, o relógio hoje encalhado nas oito horas, nem ata nem desata, tipo cordões de sapatos quando enrolados em beijos suspensos nos lábios, e os sapatos em corrida apressada rumo ao areal, o areal longe, o mar aqui, debaixo da minha janela, debaixo das gaivotas, à espera,

- porque poisam as gaivotas na minha mão,

E eu sem mão, ontem comi a minha mão, e ele e ela, ele sem jantar entalado entre três ovos uma alface um copo de água e um poema do Mário, e o Mário coitado, feliz, deitado, adormecido junto ao mar…

- Porque poisam as gaivotas na minha mão…

Um miúdo acena-me da rua, ele e ela escondem-se nas ondas, e o mar junto aos candeeiros, e o mar à minha espera para me engolir durante a noite e eu à espera do mar para me encontrar com o Mário Cesariny.

 

 

(texto ficção)

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

Nas sílabas a minha boca suspensa

Na escuridão da tarde

E as palavras em pergaminhos

Das palavras onde vogais teimosas

 

Poisam nos meus olhos

Vagueiam dentro do meu peito

À procura dos livros da noite

Que se passeiam nas ruas da cidade

 

Oiço a tua voz sonâmbula

Na esquina junto ao rio

No sorriso de uma gaivota

Que dorme debaixo de um cartão

 

Pede esmola

E ninguém ninguém olha para ela

Nos passos apressados dos transeuntes

Que regressam do trabalho

 

Está escuro e vai chover

E a gaivota desordenada

Nas palavras que se escondem nas vogais

E brincam nas sílabas

 

Nas sílabas a minha boca suspensa

Na escuridão da tarde

Sei que tenho uma cabeça sobre os ombros

Mas sinto-a tão distante

 

Tão longe de mim

Tinha asas e as minhas asas voaram

No sorriso do vento

Foram com a tempestade

 

E agora também eu peço esmola

De mão dada com a gaivota

Também eu durmo debaixo de um cartão…

E ninguém ninguém olha para nós.

 

 

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:51

Os teus seios suspensos na montanha

Quando olham a ribeira

Entre o xisto pregado ao amanhecer

Em sorrisos feiticeira

 

E dos segundos emerge a manhã

Que se apoderam do teu corpo adormecido

Das tuas mãos o desejo de princesa

Nas tuas mãos o silêncio prometido

 

Os teus seios suspensos na montanha

Que os meus olhos acariciam alegremente

Correm as gaivotas junto ao mar

E junto ao mar dormem como gente…

 

 

Luís Fontinha

29 de Abril de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:24

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