Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

09
Mai 11

Ele de cabeça suspensa no prato de sopa, à volta da mesa dez zumbis prisioneiros às cadeiras adormecidas no pavimento, e a sopa fugia-lhe e escondia-se junto ao armário, levantava ao de leve a cabeça, e novamente ele em deambulações deixando aos poucos de sentir o corpo,

- não tenho braços,

Ele sentado e lá fora as suas mãos brincavam junto aos pinheiros, a porta de entrada cerrada, a janelas cerradas e com grades, o prato de sopa à espera de mais uma cabeçada, e ele, ele adormeceu fixando os olhos num ponto imaginário da mesa, ele sem braços, e os braços pendurados junto ao corpo e fora do corpo, no jardim juntamente com as mãos,

- já sei voar, e voava em redor das janelas onde os zumbis passaram a ser sombras, e as sombras aos berros em redor da mesa, pratos são lançados contra as frestas da parede e o silêncio não silêncio, o silêncio…

O silêncio despedia-se do almoço, o almoço aos soluços, e ele, ele com a focinheira metida dentro de um prato de sopa, ele dentro do refeitório, e as mãos e os braços,

- não tenho braços, já sei voar, e voava em redor das janelas junto aos pinheiros, e as mãos e os braços em brincadeiras escrevendo frases na terra, as flores sorriam e chovia, o corredor começava a encolher, carris em aço e eu um comboio pendurado no começo da tarde,

Ele de cabeça suspensa no prato de sopa e esqueceu-se que um prato e uma mesa à sua frente, adormeceu, as mãos e os braços lá fora, e à sua volta dez zumbis que acreditavam ser possível atravessar a parede e irem brincar no jardim,

- com as minhas mãos e com os meus braços,

Não tenho braços, já sei voar, e voava em redor das janelas…

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

9 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:38

O poema despede-se dos meus lábios

E deixa sílabas nos meus olhos

O poema entranhado no meu peito…

E nas palavras o sufoco de caminhar

 

Por entre os cisnes

Que brincam no lago.

O poema prende-se à noite em construção

Quando na cidade se vai escrevendo

 

Com a mão do vento

E no silêncio do poema

Uma mulher despe-se

E o poema escreve-se no seu corpo…

 

É madrugada

É a noite a transformar-se em dia

É num corpo de mulher

Que vejo o poema abraçado.

 

 

Luís Fontinha

9 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:14

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