Cessam as nuvens do amanhecer que tapam os meus olhos, cessa o néon encalhado na parede sobre as portas de entrada dos comércios, cessam os bancos do jardim e escondem-se por entre as sombras da rua, e logo pela manhã alicerçam-se nas minhas pernas as algas do rio que durante a noite entraram pela janela, tenho medo, fico preso ao chão, as minhas pernas ancoradas a um relógio de parede no silêncio do tempo engasgado e circular à volta do candeeiro, não ando, deixei de andar e também perdi a velocidade, quero esconder-me dentro de uma raio de sol, mas o sol é suficiente frio para aquecer o meu corpo gélido, verifico que sou de tungsténio, e cessam as nuvens do amanhecer que tapam os meus olhos, deixei de ver, deixei de observar as coisas belas e não belas, e há pedras tão belas, e belas tão flores, e mulheres incandescentes no limiar da conservação da massa, na aceleração gravítica, nos protões e electrões, e no infinito…
Luís Fontinha
10 de Maio de 2011
Alijó