Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Mai 11

A voz poética e inspiradora, e quando ele triste, ouve incessantemente esta música, e adormece embrulhado nas palavras, agarradinho aos sons melódicos… e espera a chegada da manhã.

Sobre a mesa-de-cabeceira ele guarda os óculos que o ajudam na procura das palavras quando estas vêem até à janela e da janela voam até ao espelho pendurado numa parede triste, numa parede feia, numa parede velha, esta música ajuda-o na viagem até às galáxias mais distantes e fora do nosso universo, deus sentado no fim de tarde, juntinho ao cais, à espera das ondas que vêem de longe e vão para longe, levam bálsamos lábias no esquecimento da sombra das árvores que gemem no mostrador de um relógio de pulso,

- Ai que frio,

Balançam na tarde em termino e sacodem os pássaros irritantes que poisam nas suas costas, choram, tremem na incandescência dos minutos perdidos com uma conversa perfeitamente estúpida, perfeitamente sem nexo,

- Que importa se deus criou ou não o universo?

Ai que frio.

A voz poética e inspiradora, e quando ele triste, ouve incessantemente esta música, e adormece embrulhado nas palavras, beija-as no silêncio da noite e o som entranha-se dentro dele, e das palavras crescem flores, e nas nuvens um poema despe-se, sorri e juntamente com as palavras olham deus sentado junto ao cais…

 

 

 

(texto de ficção sobre a música, Simple Words - Fingertips)

Luís Fontinha

11 de Maio de 2011

Alijó

(http://youtu.be/1fsyeauLv7Q)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:04

A seiva dos meus braços

Esgota-se na maré

Baixa a cabeça junto à areia…

E quando amanhece

 

Não seiva

Não braços

Nada ficou depois da tempestade

E quando amanhece

 

Procuro a seiva dos meus braços

A força do meu peito

E canso-me de procurar…

E procuro nas paredes do buraco

 

Qualquer coisa onde me agarrar

Mas a seiva escorre pelas entranhas da terra

Desaparece na maré

Foge dos meus braços.

 

 

Luís Fontinha

11 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

As ervas não deixam de crescer no meu quintal, já tentei todos os métodos possíveis e imaginários, e mesmo assim, quando acordo, lá estão elas a olhar-me e a berrar nos meus ouvidos palavras de revolta.

 

Com fogo, com as minhas mãos, sachando ou utilizando herbicida, lá estão elas, as ervas, logo pela manhã no meu quintal.

 

As ervas não deixam de crescer no meu quintal e eu vou deixá-las crescer, dou-me conta que não tenho mais força para as combater, baixo os braços, encosto-me a uma oliveira, puxo por um cigarro… e fim.

 

 

Luís Fontinha

11 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:06

Vagueio pelas ruas

E sou uma sombra em pequena dimensão,

Mínima,

Onde o tempo se esgota nos segundos

 

Num relógio sem comida

Pendurado nas minhas costas,

Parou… deixou de caminhar

Junto ao mar.

 

Vagueio pelas ruas

E percebo que quando à minha passagem

Os rostos que me olham

Têm medo

 

Escondem-se de mim,

Fingem não me ver,

E eu vagueio pelas ruas

À procura de um bom dia,

 

À procura de uma palavra

Nem que seja escrita no pavimento…

Que depois da chuva

Caminhou para o mar…

 

Vagueio pelas ruas

E sou uma sombra em pequena dimensão,

Mínima,

Mas por dentro da sombra existe um ser humano

 

Com coração

Estômago

Fígado

E todos os órgãos necessários para eu estar vivo…

 

 

Luís Fontinha

11 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:20

Hoje olhei-me ao espelho, não reconheci a imagem reflectida, aguardei uns segundos, abri e fechei os olhos, voltei a olhar, e o que vi não foi o meu rosto, vi o meu cansaço impresso na luz, vi as minhas mãos penduradas no guarda-fatos, e vi à minha volta os pássaros da manhã saltitando na janela do meu quarto.

 

Pergunto-me o que foi feito do meu rosto durante a noite, pergunto-me onde estará neste preciso momento o meu rosto, entretanto calculei que o meu rosto voltasse a mim, corri para o espelho do meu quarto, mas em vão, o meu rosto desapareceu para sempre, ausentou-se na noite, cansou-se do meu corpo.

 

E eu, e eu já há muito que tinha deixado o meu esqueleto arrumado dentro do guarda-fatos, agora tenho lá as minhas mão penduradas, e o meu rosto, o meu rosto voou antes de acordar a manhã, hoje olhei-me ao espelho, não reconheci a imagem reflectida, aguardei uns segundos, abri e fechei os olhos, voltei a olhar, voltei a olhar e chego à conclusão que o meu corpo anda disperso por vários locais, e será difícil, vai ser impossível voltar a ser eu.

 

 

Luís Fontinha

11 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:36

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