Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

14
Mai 11

Todas as terras têm uma rua ou avenida vinte e cinco de Abril, e todas elas com vista para o mar onde dormem barcos, onde brincam peixes, e todas elas, e todas elas no fim de tarde à espera do silêncio que desce devagarinho pelas árvores do jardim, os pássaros ficam assustados, de um prédio com janela para a rua uma menina experimenta a lei da gravidade, tropeça no vento, cai, morre, os barcos assustam-se, os barcos cruzam os braços, os barcos,

 

- tão novinha,

 

Até parece que para morrer é preciso ter idade, proibido bebidas alcoólicas a menores de dezasseis anos, fumar mata, e tão novinha, e tão doce menina em queda livre por desgostos de amor, e o amor agradece, na morte sempre uma culpa, os barcos encalham sempre na areia, e tão novinha,

 

- o cortinado ainda tentou segurá-la mas em vão, escorregou-lhe a mão, e não conseguiu inverter os nove virgula oito metros por segundo quadrado,

 

E tão novinha, e maldito Newton deitado debaixo da macieira, e pumba, leva com uma maçã na pinha, e hoje para subir ao quarto andar preciso de escadas, o maldito ascensor com o nariz entupido nos dias em que chove,

 

- e se não fosse o Newton eu levitava, e quando pertinho da janela, a janela abria-se, e ela escondida no quarto a espetar pregos nas oliveiras, na banheira, na banheira Arquimedes a lavar os testículos, e enquanto pega neles, quando pega neles o princípio da impulsão, os barcos caminham no mar…

 

E todas as ruas com vista para o mar onde dormem barcos, onde brincam peixes, onde se abraçam árvores depois do jantar, e todas as ruas têm medo de morrer,

 

- tão novinha.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

14 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:25

Três cordéis prendem-me a este país (Portugal)

E eu um papagaio de papel

Com muitas cores

À deriva nos céus

 

Levado pela tempestade

Fugindo das nuvens

Eu um papagaio de papel

Suspenso em três cordéis

 

Caminhando por montanhas e socalcos

Encalhado entre o Douro e o Tejo

Estacionado em Belém

À espera de embarque

 

E quando passa o navio?

 

Não navios a passear

Não petroleiros com tosse

Nada que corte os três cordéis

Para eu começar a voar

 

E quando acordar…

Quando acordar poisar a minha mão

Na baía de Luanda

E abrir os olhos para o mar…

 

 

Luís Fontinha

14 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:21

Peço aos teus lábios a tranquilidade do amanhecer

Quando nas mangueiras do meu quintal

Os pássaros suspensos no teu olhar,

E dos teus lábios

 

Recebo um beijo.

 

Os pássaros suspensos no teu olhar

E dos teus lábios,

 

Dos teus lábios emergem nuvens

Construídas de algodão,

Nuvens com sorrisos de silêncio

Nuvens que se enrolam nos meus braços

 

Nas tardes de solidão.

 

 

Luís Fontinha

14 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:14

Maio 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO