Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

18
Mai 11

Ontem no dia de hoje, eu encaixotado dentro de uma carruagem e nos olhos as lágrimas fundiam-se, não nos cigarros, na altura não cigarros, as lágrimas fundiam-se nos carris que me guiavam até Belém, apaixonei-me pelo rio e ao longe ouvia os barcos a chamarem-me, e eu, e eu confuso, não a certeza se queria ir ter com os barcos, ou, ou entrar dentro dos muros amarelos da Calçada da Ajuda.

 

Ontem no dia de hoje, eu encaixotado dentro de uma carruagem e nos olhos as lágrimas fundiam-se nos cigarros, o avô Domingos acabava de me dizer adeus, fechou os olhos e partiu…

 

E hoje?

 

Hoje eu sentado a recordar o dia de ontem, no dia de hoje, hoje com saudades do rio e dos barcos, com saudades do avô Domingos que deixou de me abraçar quando regressava a casa, e eu menino, o menino junto ao portão à espera de um abraço, o menino que obrigava o pai a levá-lo a passear junto ao porto de Luanda para ver os barcos, e os barcos ainda lá, o Tejo ainda lá, os muros amarelos ainda lá, e eu, eu o menino, o menino tão longe dos barcos, o menino tão longe do Tejo, o menino tão longe de Luanda…

 

Hoje eu sentado a recordar o dia de ontem, no dia de hoje, e pelas ruas de Luanda o avô Domingos hoje com um machimbombo preso a um cordel, puxa-o, fá-lo caminhar pelas ruas de Luanda, e à noite, à noite desfeito em sombras, cansado, chega a casa e o menino suspenso no portão à espera de um abraço.

 

E hoje eu sentado, e hoje, e hoje não abraço do avô Domingos.

 

 

 

Luís Fontinha

18 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:00

Em mim não amanhã, não a certeza se chegarei a logo e olhar o fim de tarde junto aos barcos, sentar-me no silêncio e esperar…

Esperar o quê?

O que posso eu esperar do amanhã se nem a certeza tenho de conseguir ver o logo, e depois, e depois ainda tenho o tormento da noite.

Em mim não amanhã, não nada que me construa um sorriso, em mim apenas os meus braços enrolados aos cortinados do agora, olhar-me pela janela da solidão e esperar, esperar sentado junto aos barcos.

 

 

Luís Fontinha

18 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:31

Nas sílabas de um sorriso

As palavras constroem poemas

Escrevem-se nos lábios em silêncio

 

Gritam pela manhã

A revolta de mais um dia

Um dia igual a tantos outros

 

Um dia copiado do ontem

E que amanhã quando amanhecer

Vou à procura do dia de hoje na gaveta da minha secretária…

 

E eu só palavras

E para que me servem as palavras?

 

Nas sílabas de um sorriso

As palavras constroem poemas

E só assim me dou conta que estou vivo

E só assim percebo para que me servem as palavras…

 

 

Luís Fontinha

18 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:32

Maio 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO