Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mai 11

(Em destaque na rede do Sapo Angola)

 

Os meninos atiram pedras à janela e da janela acordam sorrisos impressos numa bola que brinca no recreio. O Francisco sem jeito para as traquinices de uma bola, o Francisco suspenso no pavimento térreo, longe de tudo e de todos, ele embrulhado em pensamentos distantes e em sonhos irrealizáveis.

 

O corpo lá, o corpo debaixo de um pinheiro ranhoso e quase sempre infestado de bichos que depois de o relógio bater as quatro horas, depois das quatro o corpo em comichão, o corpo sacudia-se junto à fonte que nem para saciar a sede servia, e a bola saltitava junto às ervas, e cada vez que o Francisco pegava na bola, um vidro partido, uma despesa para o pai.

 

Os meninos atiram pedras à janela, e o Francisco a fazer desenhos na maré, o mar entrava-lhe pelos braços e alojava-se nos olhos quando o capim fazia a sesta do fim de tarde, o capim a esconder-se na sombra da sanzala e a sanzala junto ao rio, uma bola pulava de braço em braço, e o recreio parecia uma nuvem que aos poucos emergia num papagaio de papel, pegava no cordel, e o cordel sem força e o cordel amuado nos silêncios do menino Francisco.

 

E hoje não recreio, e hoje não menino Francisco, e hoje não pinheiro ranhoso, e hoje ainda olho para os livros que aos poucos vão ardendo na fogueira do anoitecer, e o cordel, o cordel pendurado no tecto da sala no bairro Madame Berman, e vejo o menino Francisco a gatinhar no bairro da Vila Alice.

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

Meu amor

A vida constantemente nos coloca à prova

E faz-nos atravessar caminhos calcetados de espinhos

Eu revolto-me com a minha miséria

Eu pergunto-me porque estás tu a ser castigada…

 

Revolto-me

Pergunto-me

 

Mas não sinto ódio pelo nosso castigo

Tão pouco porque estamos a ser castigados

 

Mas percebo os nossos caminhos com espinhos

Percebo que o verdadeiro amor

 

O nosso

 

É o atravessar de um caminho sinuoso…

E no final

No final estaremos abraçados junto ao mar.

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:29

A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e hoje, hoje nada aconteceu de relevante para contar. Hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo… e logo quando aos bocadinhos a noite for adormecendo, eu espero ainda estar vivo, e repetidamente, sem me ausentar do rumo sem rumo, ir tirando fotocópias aos dias que tenho para viver.

 

Os dias sempre iguais, os dias continuamente estúpidos, ou será que o estúpido sou eu, não, não poderei ser assim tão estúpido, os dias é que são estúpidos, não eu.

 

A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e as minhas mãos adormecem, os dedos perdem-se na sensibilidade dos minutos que aos poucos, que aos poucos se transformam em sombra, e da tarde fica apenas o cheiro, o silêncio, e da tarde o meu corpo absorve a estupidez dos dias, fotocópias.

 

E dou-me conta que não preciso de estar vivo. Se todos os dias são meras fotocópias do dia anterior de que me serve o original?

 

Sou uma folha de papel fotocopiada de um original que há muito deixou de existir, e nessa simples folha de papel, e nessa simples folha de papel nem as letras conseguem sobreviver; uma página em branco à espera que alguém queira escrever alguma coisa…

 

E se hoje não passasse por Alijó o candidato do Partido Socialista e Primeiro-Ministro demissionário Eng. José Sócrates,

- Eu diria que hoje, hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo…

 

Não critico aqueles que dão a cara e andam de bandeira na mão para apoiarem e defenderem os seus ideais e convicções, seja de que partido for, eu próprio fui militante do PCP e várias vezes candidato, mas confesso que tenho medo dos outros, daquelas pessoas que têm em casa duas bandeiras, uma Socialista e outra Social-democrata, e no dia 5 de Junho à noite, conforme os resultados, vão ao guarda-fato e pegam na bandeira do partido vencedor; desses, desses tenho eu nojo.

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:42

Não sei se a minha mão rosas

Menina das oliveiras

Picam

E são vermelhas

 

Lindas como as estrelas

Leves como o vento

Não sei se rosas menina das oliveiras

Mas têm perfume de encanto

 

E sabem voar

Quando nos teus lábios acorda a cidade

Não sei se a minha mão rosas

Mas tenho saudade

 

Da noite com estrelas

E da menina das oliveiras…

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:33

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