Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Mai 11

Uma tarde destas nunca se esquece, não, nunca, e a t-shirt de alças enrola-se-lhe no corpo quando na janela o som do sol adormece na tarde, ela sorri às frestas da sala e murmura palavras em silêncio, gemidos escancarados quando da rua sobe até ao quarto andar o chamamento de uma gaivota em transe, ele e ela, minúsculas gotinhas de suor os separa, pequeninos pássaros poisados nos plátanos, ele abraça-a e sente a pele dela embebida na t-shirt e a t-shirt com o caminhar dos segundos empapa-se-lhe misturando sorrisos com lábios, misturando boca com nuvens, dos seios semi-nus vêm até ele palavras, vêm até ele sílabas e vogais, e o corpo dela parece estar dentro de um hipercubo, e entre ela e a luz, entre ela e a luz uma finíssima t-shirt de alças baloiçando nas mãos dele.

 

Um cigarro engasga-se e finge esconder-se na sombra do soalho, do sofá emerge um veleiro à procura de vento, o cigarro perde-se e desaparece na noite, a t-shirt aos poucos emagrece, diminui, e esconde-se junto ao mar, o centro de massa do corpo dela desloca-se, roda nas mãos dele, as mãos dele acariciam as coxas transpiradas dela, no vácuo sente-se o cheiro a musgo que se multiplica no chão, pequeníssimas gotinhas de prazer saltitam num crucifixo pendurado na parede que os olha, da boca dela crescem ondas,

 

- Amo-te

 

Da boca dela a palavra amo-te pendura-se no púbis, crescem ondas que brincam com o néon que lhe ilumina os seios que brincam na minha mão, sinto-os como sinto a maré quando estou deitado debaixo de uma mangueira, e à minha volta o capim aleija-me nas costas, da boca dela a palavra amo-te leva-me até Luanda, sento-me no meu triciclo de madeira, e sei que o corpo dela aos poucos mistura-se com o meu, somos apenas um corpo no chão da sala,

 

- Amo-te

 

Uma tarde destas nunca se esquece, não, nunca, na Baía de Luanda a noite começa a engordar nos ponteiros do relógio que tenho pendurado na cadeira onde estou sentado, finjo estar acordado, mas por entre as nuvens olho o corpo dela que se esconde no luar, e percebo que também eu, também eu a amo muito…

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

28 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:33

Dos beijos teus lábios

Suspensos na minha boca

Dos beijos teu corpo

Em mim coisa pouca,

 

Dos beijos teus lábios

A noite funde-se no cansaço

Poisam no meu peito

E dos teus braços o abraço,

 

A multidão que nos olha junto ao mar…

Dos beijos teus lábios embrulhados no luar

Dos beijos da minha boca

Com beijos eu te beijar.

 

 

Luís Fontinha

28 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:22

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