Sissi, nome artístico de Luís Francisco Rodrigues, Sissi das meias da casa Baiona, meias da casa Baiona que vêm do fundo das pernas até à, até às nuvens em construção, Sissi em minissaia saltitando por entre as mesas abraçadas no fumo dos cigarros, cabeleira postiça, mamas de solstício de inverno a descaírem para a primavera, Sissi,
- quer casar comigo
E a Sissi a contar as bugigangas suspensas nos dedos, dos lábios carnudos, dos lábios submerge a noite quando cá fora, e junto ao passeio, cá fora candeeiros enrolam-se nas pernas desencontradas da artista da noite, lembras-te da Marilu, Marilu aquela que levava no, sim, aquela que levava nos bracinhos números de telefone dos clientes, há…, essa morreu, atropelada na calçada quando de madrugada regressava a casa, morta de sono, morta de abanar as nádegas entupidas nos caninos do quintal da vizinha, coitada da Marilu,
- coitada de mim
Quer casar comigo. As mesas abraçadas no fumo dos cigarros, na mesa-de-cabeceira pêssegos à conversa com as beatas de cigarro da noite anterior, o zimbro encolhia-se e percorria o corredor de olhos fechados, vai de encontro a uma sombra mal disposta e com insónias, não dorme desde que deixou de ser Luís Francisco Rodrigues, e agora Sissi, agora à espera junto da casa de banho que o semáforo mude de vermelho para verde, uma eternidade galgando pedregulhos pendurada em sapatos de salto finíssimo, ele em ela, ela cresceu na escuridão do boteco e de junto do regimento de lanceiros pilas afiadas procuram barcos encalhados no cais, o cais afunda-se, o cais tosse, o cais,
- quer casar comigo
Não. Deixe-me em paz.
- Sissi, nome artístico de Luís Francisco Rodrigues, Sissi das meias da casa Baiona, Sissi cansada, Sissi abre as pernas, vê os euros cresceram na carteira, e se não abrisse as pernas, se não abrisse as pernas tremia de fome, o mesmo destino que a Marilu.
Quer casar comigo.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
29 de Maio de 2011
Alijó