Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Mai 11

Sissi, nome artístico de Luís Francisco Rodrigues, Sissi das meias da casa Baiona, meias da casa Baiona que vêm do fundo das pernas até à, até às nuvens em construção, Sissi em minissaia saltitando por entre as mesas abraçadas no fumo dos cigarros, cabeleira postiça, mamas de solstício de inverno a descaírem para a primavera, Sissi,

 

- quer casar comigo

 

E a Sissi a contar as bugigangas suspensas nos dedos, dos lábios carnudos, dos lábios submerge a noite quando cá fora, e junto ao passeio, cá fora candeeiros enrolam-se nas pernas desencontradas da artista da noite, lembras-te da Marilu, Marilu aquela que levava no, sim, aquela que levava nos bracinhos números de telefone dos clientes, há…, essa morreu, atropelada na calçada quando de madrugada regressava a casa, morta de sono, morta de abanar as nádegas entupidas nos caninos do quintal da vizinha, coitada da Marilu,

 

- coitada de mim

 

Quer casar comigo. As mesas abraçadas no fumo dos cigarros, na mesa-de-cabeceira pêssegos à conversa com as beatas de cigarro da noite anterior, o zimbro encolhia-se e percorria o corredor de olhos fechados, vai de encontro a uma sombra mal disposta e com insónias, não dorme desde que deixou de ser Luís Francisco Rodrigues, e agora Sissi, agora à espera junto da casa de banho que o semáforo mude de vermelho para verde, uma eternidade galgando pedregulhos pendurada em sapatos de salto finíssimo, ele em ela, ela cresceu na escuridão do boteco e de junto do regimento de lanceiros pilas afiadas procuram barcos encalhados no cais, o cais afunda-se, o cais tosse, o cais,

 

- quer casar comigo

 

Não. Deixe-me em paz.

 

- Sissi, nome artístico de Luís Francisco Rodrigues, Sissi das meias da casa Baiona, Sissi cansada, Sissi abre as pernas, vê os euros cresceram na carteira, e se não abrisse as pernas, se não abrisse as pernas tremia de fome, o mesmo destino que a Marilu.

 

Quer casar comigo.

 

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

29 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:51

Sou prisioneiro da miséria

Engomado pelas nuvens em revolta

Sou mendigo revoltado

Nas montras de café à minha volta,

 

Sou presente envenenado

E distribuído pela manhã às árvores vagabundas

Milhares de pássaros suspensos nos meus olhos

Nas minhas mãos sujas nas minhas mãos imundas,

 

Quem quer um desempregado

Quem quer um monstro escondido numa folha de papel…

Quem quer palavras comer

Palavras cansadas palavras amarradas por um cordel

 

À minha espera no portão de Luanda,

Quem me quer quem me quer

Folha de plátano nos meus lábios sedados

E envenenados por sílabas de aluguer,

 

Canso-me nas ruas da cidade

Farto-me da prisão Portugal

Sou prisioneiro da miséria…

Sou homem ou sou animal?

 

 

Luís Fontinha

29 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:45

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