Oxalá aconteça algo de bom nas nossas vidas, sim e eu consiga vencer esta batalha, sim, oxalá que do sol venha até nós o movimento pendular dos nossos corpos, sim e eu me abrace nos teus lábios enquanto passeamos junto ao mar, e eu me abrace na tua boca enquanto a neblina se alicerça nas tuas coxas.
- Sim oxalá
Olha-se ao espelho, e dele os tentáculos da manhã poisam nas suas mãos camufladas pelo cacimbo, os alfinetes que seguram o vestido dela dormem profundamente e no espelho sente-se a fome transmitida pela imagem de um magricelas, o papel de parede extingue-se no candeeiro do quarto, o vestido dela, o vestido dela suspenso nas lágrimas de uma criança esquecida no recreio da escola, os nossos corpos encostam-se, nos nossos corpos milímetros quadrados de desejo avançam em direcção ao ascensor, ele divide-se em três e ela, ela mistura-se com a saliva quando na parede da sala o relógio em mentiras desacreditadas escreve sílabas desajeitadas, palavras que quase não se lêem, sombras que abrem a boca para prenunciar vagarosamente que são cinco horas da tarde.
- Oxalá aconteça algo de bom nas nossas vidas, procuro no álbum de fotografias e apenas encontro um miúdo de dentes arreganhados, pulseiras nos braços e anéis nos dedos, um crucifixo em gargalhadas junto ao peito, uma menina segura-lhe o braço, e a menina com o tempo perdeu-se, a menina aos poucos engolida pelos musseques, sim e eu consiga vencer esta batalha,
Ele soldado, ele de fato e gravata, ele sentado numa cadeira de praia, e oxalá amanhã a praia entre pela janela do meu quarto, ele e ela constroem castelos de areia nos lençóis e quando o guarda-fato os olha, ela em sorrisos ela abanando os bracinhos, ela em pequeníssimas dentadas no pescoço dele,
- Sim oxalá.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
30 de Maio de 2011
Alijó