Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Mai 11

Oxalá aconteça algo de bom nas nossas vidas, sim e eu consiga vencer esta batalha, sim, oxalá que do sol venha até nós o movimento pendular dos nossos corpos, sim e eu me abrace nos teus lábios enquanto passeamos junto ao mar, e eu me abrace na tua boca enquanto a neblina se alicerça nas tuas coxas.

 

- Sim oxalá

 

Olha-se ao espelho, e dele os tentáculos da manhã poisam nas suas mãos camufladas pelo cacimbo, os alfinetes que seguram o vestido dela dormem profundamente e no espelho sente-se a fome transmitida pela imagem de um magricelas, o papel de parede extingue-se no candeeiro do quarto, o vestido dela, o vestido dela suspenso nas lágrimas de uma criança esquecida no recreio da escola, os nossos corpos encostam-se, nos nossos corpos milímetros quadrados de desejo avançam em direcção ao ascensor, ele divide-se em três e ela, ela mistura-se com a saliva quando na parede da sala o relógio em mentiras desacreditadas escreve sílabas desajeitadas, palavras que quase não se lêem, sombras que abrem a boca para prenunciar vagarosamente que são cinco horas da tarde.

 

- Oxalá aconteça algo de bom nas nossas vidas, procuro no álbum de fotografias e apenas encontro um miúdo de dentes arreganhados, pulseiras nos braços e anéis nos dedos, um crucifixo em gargalhadas junto ao peito, uma menina segura-lhe o braço, e a menina com o tempo perdeu-se, a menina aos poucos engolida pelos musseques, sim e eu consiga vencer esta batalha,

 

Ele soldado, ele de fato e gravata, ele sentado numa cadeira de praia, e oxalá amanhã a praia entre pela janela do meu quarto, ele e ela constroem castelos de areia nos lençóis e quando o guarda-fato os olha, ela em sorrisos ela abanando os bracinhos, ela em pequeníssimas dentadas no pescoço dele,

 

- Sim oxalá.

 

 

(texto de ficção)

Luís Fontinha

30 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:16

A rua em movimento

Nas pessoas silêncios pendurados nos lábios

Tosse convulsa emerge da boca de uma árvore

E parvo eu

 

Que ainda acredito que o mar vem até mim

Acredito que da maré vão crescer desejos

Abraços no fim de tarde

E parvo eu

 

Tão parvo

Junto ao cais à espera de embarque

E parvo eu

Pedindo às gaivotas que os ponteiros do relógio cessem

 

Diminuam na claridade dos lençóis amarrotados

Quando a minha cama se recusa a adormecer o meu corpo

Quando no meu quarto as gaivotas

Poisam no meu peito

 

E do meu corpo acorda o cheiro a cadáver

A pó que o mar quer engolir

E parvo eu

Tão parvo

 

Indiferente à rua em movimento

Nas pessoas silêncios pendurados nos lábios

Das pessoas passos de monstro

Nas pessoas… sorrisos devastados.

 

 

Luís Fontinha

30 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:03

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