Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

27
Mai 11

Sento-me e olho o rio

O mesmo rio que no passado

Testemunhou as minhas lágrimas

O mesmo rio que no presente

 

Corre nas minhas veias

E às vezes

Às vezes sinto o vinte e oito

Apressadamente nas minhas costas

 

Rumo a Moscavide

Passagem por Alcântara

Mistura-se nos carris em Santa Apolónia…

E em frente em frente um paquete que me espera

 

E me engole na noite

Sento-me e olho o rio

E do rio absorvo o silêncio

No rio o meu corpo suspenso numa manhã de Lisboa…

 

 

Luís Fontinha

27 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:43

26
Mai 11

Sou filho do cruzamento de caminhos e de um emaranhado de fios suspensos nas estrelas nos céus de Luanda, e quis o destino que eu possivelmente fosse concebido na Vila Alice, onde dei os primeiros passos, e os meus pais conhecerem-se no Bairro Madame Berman, mas, e há sempre um mas, mas,

 

- ele nasce em Alijó e aos doze anos ruma a Mirandela para trabalhar numa oficina de automóveis, descontente com a vida, aos dezassete vai à procura de aventura e poisa em Angola, poisa como quem diz, foi levado por um paquete, percorre várias zonas de Angola e acaba por ir até ao antigo Congo Belga onde esteve trinta dias conjuntamente com outros, protegidos pelos capacetes azuis, eu diria presos, pois eles não podiam sair do local onde estavam, e essa aventura valeu-lhe enjoar o arroz com chouriço, e um dia fartou-se, e um dia consegue fugir e assaltar uma fazenda onde ao final da tarde aparece no acampamento com diversos cachos de bananas, trinta dias a mastigar arroz com chouriço, ao almoço, ao jantar, ele farto,

 

E agora percebo a minha pancada, não muita, alguma, percebo quando pego nos dois álbuns de fotos do meu pai, todas de Angola, onde aparece de calças esticadinhas, sapatos afiadinhos na ponta, gel no cabelo e óculos de sol, ele empoleirado numa lambreta, ele um boémio que muda de vida após o casamento, e quis o destino que ela, ela,

 

- nasce em Carvalhais, S. Pedro do Sul, aos sete meses dá um pulinho até Oliveira de Frades e aos cinco anos, aos cincos anos em Angola onde fez a instrução primária na missão de S. Paulo, em 1961 vem a Portugal de férias e no regresso, no regresso a Angola conhece aquele que foi, e continuará a ser, o amor da sua vida e meu pai, e ela hoje, ela hoje com saudades dos vinte anos que viveu em Luanda,

 

Sou filho do cruzamento de caminhos e de um emaranhado de fios suspensos nas estrelas nos céus de Luanda, e tenho um sonho, terminar os meus dias na baía de Luanda, sentado numa cadeira, e olhar o mar…

 

 

Luís Fontinha

26 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

Tenho qualquer coisa de estranho dentro de mim

Uma angústia que me pica

Dois vectores que habitam o meu corpo

Adiciono-os e multiplico-os

 

E nas minhas costas cresce uma matriz transposta

Ordinária que durante a noite me acorda

Tenho qualquer coisa de estranho

E o estranho sou eu

 

São as minhas mãos

Os meus braços

São os meus lábios…

Porque tudo o que me pertence

 

É estranho

Simples como a noite

Objectos suspensos na minha janela

Quando o meu quarto nem janela possui

 

Quando eu sem quarto

Porque a minha casa é estranha

E às vezes sinto que ela em lágrimas

Sorri para a rua

 

Tenho qualquer coisa de estranho dentro de mim

Uma angústia que me pica

 

E hoje chuva

E hoje nuvens

E hoje eu estranho

Dentro da angústia que me pica…

 

 

Luís Fontinha

26 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:32

Hoje quero partilhar com os meus amigos o novo álbum dos Fingertips – Venice, onde deixo aqui uma das músicas (Dreaming of the Moon). http://youtu.be/1E6Uen2x8w8

 

Antes de adormecer oiço as músicas dos Fingertips que dão vida às minhas palavras durante a noite, e quando acordo, quando acordo sinto na minha mão os textos e os poemas construídos pelos sons melódicos desta banda.

 

Os Fingertips são uma banda Portuguesa, de um lindíssimo concelho (S. Pedro do Sul) que guardo grandes recordações e saudades, da mesma forma que guardo em mim as saudades e as recordações de Luanda.

 

Recordo as férias, recordo os fins-de-semana, recordo os meus avós, pois a minha família materna são de uma aldeia do concelho de S. Pedro do Sul – Carvalhais.

Ainda hoje mantenho o contacto com Carvalhais, tenho lá os meus primos e claro, as visitas ao cemitério onde repousam o meu avô Domingos e a minha avó Silvina.

 

Aqui fica o site oficial dos Fingertips.

http://www.thefingertips.com/pt

 

 

 

Luís Fontinha

26 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:02

25
Mai 11

 

 

Todas as noites dou um pulinho até Angola. Sento-me no sofá, pego no comando do MEO e digito 230, zás, cá estou eu dentro da TPA – Internacional (Televisão Pública de Angola).

 

Não me questionem porque o faço, eu próprio não sei, mas faço-o instintivamente, talvez para estar ao corrente do que se passa na terra onde nasci, talvez este ritual sirva para avivar o álbum fotográfico do menino que nasceu e viveu até aos seis anos na querida Luanda. Talvez, não sei…

 

Todos os dias dou um pulinho até Angola, pela manhã mergulho no Jornal de Angola online, e à noite, à noite eu saboreio os meus olhos com as imagens que chegam até mim através da TPA – Internacional, e os ouvidos, ai os ouvidos… ai os sons…

 

Quero deixar um agradecimento especial, dar um abraço e os parabéns a todos os homens e mulheres da Televisão Pública de Angola, que diariamente trazem até mim os sons e as imagens da terra onde nasci e que nunca vou esquecer.

 

 

Luís Fontinha

25 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:13

Os barcos suspensos no sorriso da maré

E na espuma que o mar constrói

As gaivotas que se passeiam pela manhã

E das asas, das asas pingos de chuva

 

Brincam com as nuvens.

Os barcos enrugados na tempestade

E o corpo de um menino balança

No convés dos dias intermináveis

 

Cansativos e os barcos sem rumo

Presos ao cascalho do cais

Em silêncios cadentes

Na espuma que o mar constrói.

 

 

Luís Fontinha

25 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:48

24
Mai 11

(Em destaque na rede do Sapo Angola)

 

Os meninos atiram pedras à janela e da janela acordam sorrisos impressos numa bola que brinca no recreio. O Francisco sem jeito para as traquinices de uma bola, o Francisco suspenso no pavimento térreo, longe de tudo e de todos, ele embrulhado em pensamentos distantes e em sonhos irrealizáveis.

 

O corpo lá, o corpo debaixo de um pinheiro ranhoso e quase sempre infestado de bichos que depois de o relógio bater as quatro horas, depois das quatro o corpo em comichão, o corpo sacudia-se junto à fonte que nem para saciar a sede servia, e a bola saltitava junto às ervas, e cada vez que o Francisco pegava na bola, um vidro partido, uma despesa para o pai.

 

Os meninos atiram pedras à janela, e o Francisco a fazer desenhos na maré, o mar entrava-lhe pelos braços e alojava-se nos olhos quando o capim fazia a sesta do fim de tarde, o capim a esconder-se na sombra da sanzala e a sanzala junto ao rio, uma bola pulava de braço em braço, e o recreio parecia uma nuvem que aos poucos emergia num papagaio de papel, pegava no cordel, e o cordel sem força e o cordel amuado nos silêncios do menino Francisco.

 

E hoje não recreio, e hoje não menino Francisco, e hoje não pinheiro ranhoso, e hoje ainda olho para os livros que aos poucos vão ardendo na fogueira do anoitecer, e o cordel, o cordel pendurado no tecto da sala no bairro Madame Berman, e vejo o menino Francisco a gatinhar no bairro da Vila Alice.

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

Meu amor

A vida constantemente nos coloca à prova

E faz-nos atravessar caminhos calcetados de espinhos

Eu revolto-me com a minha miséria

Eu pergunto-me porque estás tu a ser castigada…

 

Revolto-me

Pergunto-me

 

Mas não sinto ódio pelo nosso castigo

Tão pouco porque estamos a ser castigados

 

Mas percebo os nossos caminhos com espinhos

Percebo que o verdadeiro amor

 

O nosso

 

É o atravessar de um caminho sinuoso…

E no final

No final estaremos abraçados junto ao mar.

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:29

A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e hoje, hoje nada aconteceu de relevante para contar. Hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo… e logo quando aos bocadinhos a noite for adormecendo, eu espero ainda estar vivo, e repetidamente, sem me ausentar do rumo sem rumo, ir tirando fotocópias aos dias que tenho para viver.

 

Os dias sempre iguais, os dias continuamente estúpidos, ou será que o estúpido sou eu, não, não poderei ser assim tão estúpido, os dias é que são estúpidos, não eu.

 

A tarde despede-se em pedacinhos de ninguém, e as minhas mãos adormecem, os dedos perdem-se na sensibilidade dos minutos que aos poucos, que aos poucos se transformam em sombra, e da tarde fica apenas o cheiro, o silêncio, e da tarde o meu corpo absorve a estupidez dos dias, fotocópias.

 

E dou-me conta que não preciso de estar vivo. Se todos os dias são meras fotocópias do dia anterior de que me serve o original?

 

Sou uma folha de papel fotocopiada de um original que há muito deixou de existir, e nessa simples folha de papel, e nessa simples folha de papel nem as letras conseguem sobreviver; uma página em branco à espera que alguém queira escrever alguma coisa…

 

E se hoje não passasse por Alijó o candidato do Partido Socialista e Primeiro-Ministro demissionário Eng. José Sócrates,

- Eu diria que hoje, hoje um dia perfeitamente normal, hoje um dia igual a tantos outros, acordei, estou vivo…

 

Não critico aqueles que dão a cara e andam de bandeira na mão para apoiarem e defenderem os seus ideais e convicções, seja de que partido for, eu próprio fui militante do PCP e várias vezes candidato, mas confesso que tenho medo dos outros, daquelas pessoas que têm em casa duas bandeiras, uma Socialista e outra Social-democrata, e no dia 5 de Junho à noite, conforme os resultados, vão ao guarda-fato e pegam na bandeira do partido vencedor; desses, desses tenho eu nojo.

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:42

Não sei se a minha mão rosas

Menina das oliveiras

Picam

E são vermelhas

 

Lindas como as estrelas

Leves como o vento

Não sei se rosas menina das oliveiras

Mas têm perfume de encanto

 

E sabem voar

Quando nos teus lábios acorda a cidade

Não sei se a minha mão rosas

Mas tenho saudade

 

Da noite com estrelas

E da menina das oliveiras…

 

 

 

Luís Fontinha

24 de Maio de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:33

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